Inspirações e experiências

2023

Como promover a natureza como um espaço educador?

12 de março de 2023

“Para mim, o aprender é uma criança curiosa, investigativa, articuladora de ideias e sentimentos, e que ama experimentar o mundo… principalmente a natureza.” É assim que Luísa Victor Silva, integrante do Conselho Deliberativo da Aliança pela Infância, comenta o tema escolhido para a Semana do Aprender 2023 — A Natureza no Aprender, que teve início na última segunda-feira (6) e se encerra neste domingo.

 

A Semana do Aprender é um convite para que pais, cuidadores, educadores e todos os amigos da infância compartilhem — não somente em março, mas durante o ano todo — debates, atividades, experiências e inspirações em casas, creches, praças, bibliotecas e outros espaços, de forma individual ou coletiva. Basta inspirar-se no mesmo tema — A Natureza no Aprender — e garantir que as atividades realizadas sejam todas gratuitas.

O tema deste ano foi escolhido para promover o diálogo entre a imaginação, o aprender, a natureza e a cultura das infâncias. Nesse sentido, é possível promover atividades dentro e fora da sala de aula, compreendendo a natureza como um grande espaço educador. Isso também recomendado nos eixos norteadores das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), e confirmado na BNCC (2017), estimulando interações e brincadeiras que “incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação (…) à natureza”.

Para Luísa Victor Silva, integrante do Conselho Deliberativo da Aliança pela Infância, estas vivências em ambientes naturais promovem benefícios que vão muito além das aprendizagens cognitivas dos conhecimentos que moram na natureza. “A integração com esses espaços nos traz saúde física e psíquica, o que permite que a gente exerça uma presença de qualidade: mente e corpo em equilíbrio, para conseguir processar bem os estímulos e as conexões cerebrais”, afirma a educadora. 

Além da Aliança pela Infância, Luísa também faz parte do movimento Quintais Brincantes, formado por educadoras de vários estados brasileiros que trabalham com práticas educativas centradas na infância e na natureza. “Nós enxergamos as crianças e a natureza como mestras que têm autonomia e poder de guiar os processos de aprendizagem que naturalmente acontecem no fluir da vida”, explica a educadora.

“Nossos quintais estão espalhados pelo Brasil em diversos formatos: escolas públicas e privadas, espaços de contraturno, terreiros, quintais familiares, projetos sociais, espaços de brincar… em todos eles há o desejo comum de possibilitar o encontro das crianças com a natureza de dentro e de fora. Sendo assim, a natureza é espaço, é ser mágico e é incansável educadora dos nossos corpos e afetos, complementa.

A seguir, uma conversa sobre o papel da natureza no aprender entre Aliança pela Infância e Luísa:

De que maneira a natureza tem que estar presente nos espaços de aprendizagem? E como levar essa aprendizagem para espaços não-formais? 

A natureza por si só já é um riquíssimo espaço de aprendizagens. Estamos vivendo uma desconexão tamanha que precisamos ficar lembrando, estudando e reconhecendo a natureza…nós somos seres naturais. Nós somos natureza e por tanto, onde estivermos levaremos a natureza junto. A natureza nos habita e nós habitamos ela, não precisa viajar para o “meio do mato” para encontrar a natureza. Basta olhar na janela, basta escutar os batimentos cardíacos, basta reconectar o nosso olhar com a vida pulsante e a morte também presente na natureza. Acredito que além de trazer o verde e a vida para dentro das escolas e dos demais espaços educativos, precisamos também afinar os nossos sentidos, reconhecer nossos movimentos ancestrais, exercitar a presença observadora e sobretudo, saber contemplar. 

Muitos dos quintais brincantes já cumprem o papel de espaços não-formais de educação. E o movimento dos quintais Brincantes tem muito interesse em disseminar e fazer chegar a ideia da importância da natureza para a infância e especialmente para os processos de aprendizagem. Inclusive publicamos um e-book que nasceu de uma pesquisa que fizemos sobre essas práticas: Quintais Brincantes: sobrevoos por vivências educativas brasileiras. Que já está gratuitamente disponível na biblioteca virtual do programa Criança e natureza, do Instituto Alana. E agora o Movimento está trabalhando para conseguir espalhar ainda mais essas sementes 

Quais são as estratégicas para estimular e proporcionar o acesso à natureza para crianças mais velhas? 

Acho que o movimento mais importante para isso é o reconhecimento dessa responsabilidade por parte do poder público. O direito à cidade e à natureza precisam ser respeitados com a inteireza que merecem. Sem políticas públicas com caráter intersetorial, fica difícil oferecer esse acesso a natureza em escolas, por exemplo. Acesso a natureza é sobre manutenção, preservação e criação de espaços naturais, mas também é sobre educação, saúde, infra-estrutura, lazer e principalmente, sobre diminuição da desigualdade social tão presente em nosso país.

Pensando de forma mais particular no contexto de crianças mais velhas, acredito que não é muito diferente de crianças de outras idades. Como entendo a natureza como educadora, acredito que o acesso a espaços naturais por si só já possibilita vivências agregadoras para pessoas de qualquer idade, mas atuando como pedagoga descobri uma série de atividades produzidas por Joseph Cornell que são muito interessantes. Também já aprendi muitas atividades com a Ana Carol Tomé do @sercriancaenatural. Como a brincadeira de achar cores na natureza a partir de uma paleta de cores escolhidas, descobrir pegadas de animais, produzir pincéis com materiais da natureza. Com o Roquinho eu aprendi a fazer barquinhos com elementos naturais e depois brincar de navegar em pequenos ou grandes cursos de água e a brincar com o talo da folha da embaúba (arranca-se tudo da folha e sobra só o talo que tem formato parecido com o cabo de um guarda-chuva, engancha no dedo e sai girando por aí como se fosse uma hélice…)

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