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Artigo: “O Nascimento Psicológico do Bebê”, por Cristina Silveira

15 de abril de 2016

Artigo de 31.07.2013
Por Cristina Silveira

Os nascimentos biológico e psicológico do bebê não coincidem no tempo. O nascimento psicológico do bebê se dá, paulatinamente, através de um processo de separação-individuação, que se inicia por volta do segundo mês e vai desenvolvendo-se até aos 30, 36 meses de vida. Nesse período, o bebê vivencia algumas fases importantes, em que, pouco a pouco, toma consciência da existência do agente materno.

Inicialmente, a partir do segundo mês, o bebê passa pela fase da onipotência absoluta, em que ele não tem consciência do agente materno como algo fora do seu self (de si mesmo). O bebê se comporta e funciona como se ele a sua mãe fossem um sistema onipotente, não separado. Por isso, nesse período, as mães têm uma grande afinidade com seus bebês, a intuição é bastante forte e a mãe regride, para dar conta dessa relação estreita e dependente. Nesse período, é importantíssimo que os pais sejam compreensivos e protejam essas mães, pois a relação entre ambos é intensa demais.

Em seguida, o bebê parte para a vivência de sua onipotência alucinatória condicional, tomando uma consciência turva de que a satisfação de suas necessidades não provêm da sua própria pessoa, mas de algum lugar externo a seu self (início da fase simbiótica). Ou seja, começa a reconhecer traços da mãe fora de si mesmo. Nesse momento, o ego rudimentar do bebê tem que ser complementado pelo vínculo emocional.

É nessa matriz de dependência psicológica e sociobiológica da mãe é que se dá a diferenciação estrutural que vai levar à organização do indivíduo: o ego em funcionamento visando a sua adaptação ao meio onde está inserido. A partir daí, serão realizadas as experiências contato-perceptivas, incluindo todo o corpo do bebê. O contato olho a olho com a mamãe, na amamentação, na troca de fraldas, no banho origina, organiza ou faz eclodir a resposta social do sorriso.

É também na face da mãe que acontece a primeira imagem visual do bebê. A mãe funciona como um ego auxiliar, é um organizador simbiótico – a parteira da individuação do nascimento psicológico de seu filho. O amor e afeição da mãe pelo filho o tornam um objeto de continuo interesse e, além desse interesse persistente, essa mãe oferece uma gama sempre renovada, rica e variada, e todo um mundo de experiências vitais. Vitais, porque a criança responde afetivamente a este afeto. Portanto a atitude emocional e a afetiva da mãe servirá para orientar os afetos do bebê e conferir qualidade de vida ao bebê e toda a sua saúde mental futura.

E nasce um ser psicológico

A primeira separação entre mãe e criança se dá entre seis e nove meses. É o momento em que a criança diferencia o eu do não-eu. A criança não percebe quem ela é, mas que ela é, ou seja: inicia-se o processo de separação-individuação. A individuação é o processo através do qual ela perceberá quem ela é e inicia-se aos 30 meses e podem ser descritas como diferentes modos de organização do ego e de sua relação com o meio ambiente. Nesse período pode-se observar comportamentos da criança como: puxar o cabelo, as orelhas, o nariz da mãe; tentar colocar comida na boca da mãe; afastar o corpo dela quando no seu colo, de modo a poder olhá-la melhor, examinando-a e ao mundo ao seu redor. Estes comportamentos são sinais definidos de que o bebê começa a diferenciar seu próprio corpo do corpo da mãe.

Enquanto a “gestação psicológica” é fruto da presença materna, o “parto psicológico” é fruto da ausência da mãe. O nascimento psicológico ocorre porque, entre a sensação de necessidade e o seu desaparecimento através da satisfação, existem algumas falhas.
Estas falhas ou faltas, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento adaptativo da criança.

A percepção do ambiente baseia-se na tensão gerada por um impulso não satisfeito. Freud já dizia que uma condição para que se faça o teste da realidade é que os objetos que uma vez trouxeram real satisfação tenham sido perdidos. Ou seja, as mães não são perfeitas, e é essa providência divina que faz com que os bebes amadureçam e nasçam psicologicamente, depois de uma “ Gestação Psicológica” de muito afeto e presença!

Resumindo: à medida em que a relação evolui, a mãe vai recuando nessa sua atividade e fornecendo os elementos para que a criança adquira sua autonomia. Esta é uma conquista da criança que tem de superar frustrações para se organizar no nível imediatamente superior, proporcionando a separação e a individuação da criança, que são frutos de sua atividade da na sua interação com o mundo.

Fica a dica!

Cristina Silveira é psicanalista, psicopedagoga e educadora, especialista em neuro-psicopedagogia, arte-terapia e psicologia do trabalho. Tem formação em educação inclusiva (TDAH, autismo, Síndrome de Down) e atualização em artes plásticas e saúde mental. Idealizadora do Movimento Resgatando a Infância em Minas Gerais.

 

 

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