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O brincar como território de convivência das diferenças é tema da Semana Mundial do Brincar 2019

13 de fevereiro de 2019

Todos os anos, um grande evento mobiliza a Aliança pela Infância e todos seus núcleos espalhados pelo Brasil. É a Semana Mundial do Brincar, iniciativa criada para celebrar o brincar livre como um meio que incentiva o desenvolvimento das crianças e as permite vivenciar sua criatividade e imaginação.

Se em 2016 o tema se voltou para as relações entre o brincar e o espaço; e em 2017 sua ligação com a ideia de tempo, em 2018 todo o Brasil e até a América Latina trataram do brincar que envolve o corpo e a alma.

Neste ano é hora de falar sobre a diversidade: de culturas, de povos, de costumes e de corpos e almas. Com o tema “O brincar que abraça a diferença”, a SMB 2019 – que acontecerá entre os dias 25 de maio e 2 de junho -, busca possibilitar múltiplas reflexões sobre a brincadeira como território de convívio entre as diferenças. Afinal, as primeiras interações entre crianças acontecem durante vivências lúdicas.

Conviver, se relacionar e brincar com pessoas de realidades diferentes estimula o desenvolvimento da empatia que só o contato humano pode proporcionar.

Como o tema é escolhido?

Letícia Zero, coordenadora da secretaria executiva da Aliança pela Infância no Brasil, explica que há vários caminhos para a definição do tema da SMB. Um deles é um movimento do Conselho da Aliança de olhar para questões pertinentes de serem discutidas no atual cenário da infância. Outro é uma escuta do que os núcleos têm a dizer. Com isso, a ideia é buscar inquietações em comum em diferentes regiões ou até mesmo temáticas que podem ser inspiração para outros assuntos.

Também há a possibilidade de olhar para os temas de edições anteriores da SMB e trabalhar na construção de uma linha de raciocínio. “O que temos feito há alguns anos é olhar para como os temas das SMBs se relacionam, para que a gente tenha uma narrativa e uma continuidade, que é o que dá força para esse trabalho de sensibilização. Nesse ano tivemos um movimento muito específico para decidir o tema, já que são os dez anos da SMB. Queríamos um tema relacionado a esse momento comemorativo e então falar da convivência com a diferença traz um olhar histórico da evolução. Além disso, observamos a questão da promoção da cultura de paz na infância, um dos princípios mais importantes na missão da Aliança.”

Giovana Barbosa, conselheira da Aliança, também ressalta o fato de 2019 representar uma edição especial da SMB. “Atravessar dez anos com uma articulação social com diversidade de famílias e comunidades em torno do brincar é um fato que merece muito destaque. Na história da Aliança isso é muito importante e exigiu muita articulação, esforço e trabalho. Então é por aí que começa a articulação das diferenças. A brincadeira é essa coisa que une e que promove pontes entre corações, linguagens e culturas.”

O convívio com a diferença

Para entender por que é importante falar sobre o convívio das diferenças na brincadeira, é necessário pontuar que o brincar é o modo que as crianças têm de se relacionar com os outros e com o mundo a sua volta. Dessa forma, Letícia explica que, falar sobre aprender a lidar com as diferenças e possibilitar o brincar como um território de convivência dessas diferenças, é introduzir tudo isso no mundo da criança, envolvendo discussões sobre tolerância, cultura de paz, de saber mediar, perdoar, conversar e dialogar.  

Além disso, apesar da brincadeira ser a cultura da infância de forma universal, é preciso saber que existem diferentes formas de brincar de acordo com as vivências em países, estados brasileiros e grupos sociais distintos. É por isso que a Aliança pela Infância fala em ‘infâncias’, no plural.

Os subtemas

Para dar um norte a essa temática tão ampla, a coordenadora explica que a Aliança pensou no que é importante quando se olha para a questão do brincar enquanto território de convivência das diferenças. A partir das respostas, foram elaborados seis subtemas.

O primeiro deles, Brincantes de culturas e identidades diferentes, apresenta a possibilidade de troca, inspiração e convivência entre os vários modos de brincar existentes em cada cultura. Entre perguntas como ‘O que um curumim tem a ensinar a um brincante da cidade?’ e ‘O que podemos aprender com as crianças imigrantes?’, a ideia é conhecer as diferenças e, com isso, ter mais diálogo com elas. “Quando falamos dos princípios da Aliança, falamos da construção da cultura de paz, da socialização da criança, do brincar e conviver com o outro. Então acolher a diferença e aprender com o diferente no território da brincadeira está no centro da Aliança.”

Já no segundo ponto propõe a ideia de Um corpo sem limites para brincar. Letícia explica que a proposta é possibilitar uma reflexão sobre como é possível estimular a criança que tem alguma deficiência a participar da brincadeira. “Não é tão simples quanto dizer que todo mundo é igual e brinca igual, mas que todo mundo pode brincar da mesma coisa respeitando a diferença de cada um”, ressalta a coordenadora.   

Muito relacionado ao primeiro subtema, o terceiro – Brincadeiras como exercício para a vida social – também trata do respeito a culturas diversas, da vida em sociedade. A escolha tem como motivação proporcionar reflexões sobre acolher diferentes crenças, religiões e valores espirituais, que fazem parte de uma sociedade diversa e democrática, em nome do brincar.

Brincando se constrói a cultura de paz é o quarto subtema e também um dos princípios da Aliança. A dificuldade atual no estabelecimento de diálogo foi um dos pontos que motivou a escolha desse viés. “É muito importante dialogar e refletir sobre como a gente constrói a cultura de paz com a criança em um momento que ninguém está conseguindo conversar, o que é meu, é meu e o do outro não é nada. Isso está na missão e na carta de princípios desde o começo. O brincar sobre o qual falamos promove a cultura de paz”, explica Letícia.  

Giovana também estabelece uma relação entre a cultura de paz e todas as ações encampadas pela Aliança. “O brincar te coloca em um estado de possibilidade de troca com o outro, e toda a cultura de paz está alicerçada nesse lugar de abertura. A brincadeira entre crianças e adultos ou intergeracional abre esse espaço na alma das pessoas, um espaço de confiança e de escuta, porque sem isso não há diálogo e nem uma troca efetiva. Toda cultura de paz nasce desse lugar e só é possível a partir de uma escuta e de uma troca sem medo e receio.”

Além disso, a conselheira aponta para o fato de que as circunstâncias sociais atuais, em que todos os contatos e relações humanas acontecem de forma acelerada em razão da rotina de trabalho e das múltiplas atividades, afetam as vivências das crianças. “A vida traz muitos desafios e o mundo está muito duro. Por vezes as crianças não têm possibilidade de troca. Então elas sentem muito a ausência do contato, do olho no olho, de uma voz tranquila, sem que seja tudo muito rápido e superficial. Um contato verdadeiro, com uma presença de qualidade, faz muita diferença e a cultura de paz está alicerçada nesse lugar. Ter o cuidado de trazer técnicas que são ligadas a cultura de paz só é possível se existe um ambiente que recebe isso. E a brincadeira é esse lugar, é uma troca de culturas e de afetos. A SMB nasceu com essa vontade de descobrir essas possibilidades e agora dez anos depois percebemos que há muita potência.”

O quinto subtema – Repertórios diversos do Brincar – aponta que a diversidade que está na sociedade também precisa estar nas possibilidades de brincar que o adulto oferece para a criança. Por isso, Letícia defende que é de responsabilidade deles fazer a mediação e proporcionar espaços seguros para que as crianças vivenciem o brincar livre. “Quando a criança está na brincadeira livre, está em um processo de investigação. Ao mesmo tempo que está olhando para o mundo, está procurando perguntas, tentando descobrir qual é sua pesquisa e buscando a resposta dessa pergunta. É aí que está a riqueza de aprendizado e desenvolvimento do brincar livre: a criança procurando suas indagações perante o mundo e brincando para resolvê-las. É importante o adulto ter esse olhar, entender como acontece esse brincar e refletir isso naquilo que ele prepara para a criança, para que ela possa viver esse processo de invenção.”

Por fim, o sexto ponto traz indagações sobre os casos do avesso da cultura de paz, Quando a Diferença não é respeitada. “Nesse recorte que estamos falando, o bullying é a evidência de quando a tolerância e o reconhecimento da diferença não se concretizam. Nós quisemos abrir uma janela para conversar especificamente sobre essa relação do bullying com a intolerância, com o fato de não conseguir estabelecer um diálogo com a diferença”, explica Letícia.

Giovana completa com outra visão sobre o mesmo tema: a responsabilidade e compromisso dos adultos com as crianças e a necessidade de, se for o caso, assumirem que não sabem lidar com o bullying e buscar conhecimento para tal. “Na cultura brasileira, tem uma crença de que adulto não se mete em briga de criança. Isso é muito complicado porque o adulto tem o papel e a responsabilidade de mediar. Além disso, muita gente tem vergonha de falar que não sabe lidar com bullying. Então é mais um desafio de se expor e assumir a condição de que não sabe lidar e procurar ajuda. É preciso buscar acesso a informação, que hoje há muito disponível, seja pela internet ou nas escolas, já que quase todas elas, sejam públicas ou privadas, têm essa preocupação com o bullying. Toda ajuda é bem vinda e em situações já vividas de bullying, o importante é dar a mão para a criança para que ela possa superar isso.”

Acompanhe

Todas as notícias sobre eventos, ações e atividades realizadas em edições anteriores da Semana Mundial do Brincar ficam reunidas neste link, além de informes sobre a edição de 2019. Além disso, a página do Facebook da Aliança pela Infância é atualizada com sugestões para inspirar grupos, núcleos, famílias e professores a realizarem suas SMBs Brasil afora. Fique por dentro!

 

Imagem: Kardec Rio Preto. 

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