O brincar que habita espaços: a rua encantada

28 de abril de 2016

A artista e educadora Stela Barbiera, parceira da Semana Mundial do Brincar 2016 em diversas frentes, desenvolveu para o Guia uma série de conteúdos sobre o brincar que habita espaços. Confira o ensaio sobre “Brincadeiras na rua”. Inspire-se:

brincar_na_ruaQuando saímos pela rua, tantas coisas nos chamam a atenção. Os sons dos grilos, das cigarras, dos carros; os movimentos das pessoas; as nuvens passando no céu; as árvores se balançando… Janelas nas casas e nos prédios trazem a dimensão de que diferentes vidas ocupam aquele lugar, e as crianças podem brincar com suas ideias e seu corpo nas ruas, que cada vez mais são tomadas pelos carros.

Só por meio da colaboração entre as pessoas, a rua pode ser um lugar de brincar. Podemos olhar para a cidade como um convite para ocupar o espaço. Uma cidade que reintegra o sensível em cada pedacinho – nas praças, calçadas e no olhar das pessoas – que, ao acolher o brincar, cria outra trilha sonora, as cantigas ocupando o ar, dando outro ritmo aos deslocamentos.

Brincar na cidade é experimentar um ambiente complexo de aproximações que se revelam numa investigação de possibilidades sem fim, alquimia de sentidos, de paradoxos, de potências e vetores que atingem cada um de nós – e as crianças não estão alheias a isso. Tudo ao mesmo tempo agora, a cidade não para. Ela nos invade, mas também nos convida a fazermos dela um lugar diferente, um lugar de brincar junto, de estar junto, um lugar das relações.

As amarelinhas podem tomar de novo as calçadas e até as ruas – por que não as praças? – espaços como mananciais de pesquisa e investigação, onde podemos fazer a recolha da natureza, dos vestígios humanos, das sucatas que podem se transformar num jogo de inventar outros mundos, de reconfigurar o mundo.

Que tal convidar toda a vizinhança, reunir as crianças na rua e saber do que elas brincam? Umas podem ensinar para as outras cantigas, brincadeiras de mão, brincadeiras com elástico, corda, amarelinha, entre tantas outras possibilidades.

Considerando a polifonia de sentidos de todos os participantes, poderão aventurar-se pelas calçadas, canteiros e o que mais houver. Ao observar as características desse espaço, matéria e escala, o que podem descobrir? O que os corpos ágeis das meninas e meninos podem fazer ali? Rampas, guias, escadas, casas, buracos, tudo o que há pode virar uma grande brincadeira. Brincar é desdobrar, virar do avesso, selecionando dentro de nós o que nos interessa. Brincar na rua, para transformar aquilo que já existe.

Palavras-chave inspiradoras:
CANTIGAS, AMARELINHA, CALÇADAS,
SUCATAS, ELÁSTICO, CORDA,
CANTEIROS, RAMPAS, GUIAS…

 

 

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