Ao mesmo tempo em que apresentou desafios e questionamentos, a primeira edição da Semana Mundial do Brincar (SMB) de forma predominantemente online foi um sucesso: mais de 600 inscrições foram realizadas pelo formulário da Aliança pela Infância e muitas outras ações foram organizadas no meio digital, porém incentivando a brincadeira no espaço domiciliar em razão do distanciamento social.
Entretanto, apesar das contações de histórias em lives, narrações de histórias da família, visita online a museus, dicas de experimentos científicos na cozinha, truques de mágica, coreografias e muitas outras atividades, há quem tenha encontrado uma forma de realizar ações no meio físico, tomando todas as precauções e cuidados para reduzir o risco de exposição ao novo coronavírus.
É o caso de Patrick Nogueira, membro do Núcleo da Aliança pela Infância de Duas Barras, no Rio de Janeiro, que funciona juntamente com os núcleos de Teresópolis e Nova Friburgo. O artista circense conta que, em 2012, a organização Circo Viva, da qual faz parte, foi contemplada no Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo, o que, na época, possibilitou a confecção de cerca de cinco mil cartilhas que contavam a história do circo.
“É uma folha em formato A3 que, de um lado, simula as páginas de um livro contando um pouco da história dos palhaços, do circo, a relação dessa figura na cultura popular e com o universo dos brinquedos e da infância. Do outro lado, é um jogo de trilha. Então a criança joga o dado e, conforme vai parando nas casas, recebe propostas relacionadas ao tema do circo, como ‘faça malabares’, por exemplo”, explica Patrick.
Como a pandemia motivou a distribuição das cartilhas
Ele conta que a distribuição dessas cartilhas foi uma conjunção de fatores. Em primeiro lugar, ainda havia cerca de 500 exemplares disponíveis. Além disso, a organização não sabia de que forma poderia somar-se à mobilização da SMB 2020.
“Nós chegamos a fazer vídeos de oficinas e espetáculos de circo e colocamos no canal do Circo Viva no YouTube. Mas não acreditamos que essa seja a única ou talvez a melhor alternativa de mobilização. Existem outras possibilidades, como as produções literárias e outras coisas muito interessantes que, por conta do momento, estão se perdendo e virando secundárias.”
À essa vontade de fazer algo significativo soma-se a reflexão sobre todas as mudanças impostas às crianças e jovens com a chegada da pandemia no país, como a migração quase total de suas vidas para o ambiente digital (para os que têm acesso), o que as submete a horas em frentes às telas diariamente.
Segundo Patrick, a doação foi uma forma de amenizar a questão do novo coronavírus e possibilitar que crianças tenham acesso a outros tipos de mídia que não só a digital. “A criança tinha um tempo específico para ficar online. Com a pandemia, tudo passou a ser virtual: a escola, os jogos eletrônicos. Ela passou a ficar em tempo integral nos meios digitais. Então começamos a pensar de que forma poderíamos ver a arte e a cultura circulando, sem que necessariamente todo mundo tivesse que virar youtuber”, brinca o artista.
A distribuição do material também considerou a questão de promover a solidariedade em um momento tão desafiador. “Muitas pessoas estão passando por dificuldades de trabalho, por exemplo, e a isso soma-se a questão da criança solitária em casa, já que muitas vezes não tem um irmão com quem brincar ou os responsáveis não tem muito tempo para ficar com ela pois precisam dar conta de outras questões da casa e do trabalho.”
Próximos passos
Diversos professores aderiram à ideia e as cartilhas foram distribuídas em diversas comunidades e regiões de Nova Friburgo. Agora, Patrick comenta que a organização está estudando a possibilidade de continuar a iniciativa, podendo, inclusive, expandir a distribuição com o uso do correio.
*Imagens: Circo Viva e acervo pessoal.