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Um chamado para todos: Semana Mundial do Aleitamento Materno

30 de julho de 2019

Relacionada diretamente à letra C, o Comer, do ABCD Encantado da Infância da Aliança pela Infância, a amamentação é um ato comum a todos os seres humanos e conversa com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Para celebrar e reforçar sua importância para um desenvolvimento pleno e saudável do bebê, é promovida anualmente, em agosto, a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM), do inglês World Breastfeeding Week (WBW). 

Criada em 1992 pela World Alliance for Breastfeeding Action (WABA), a SMAM está mundialmente alinhada aos ODS desde 2016. No Brasil, é promovida desde 2007 pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Em 2019, a mobilização tem como tema “Empodere os pais e possibilite a amamentação, agora e no futuro!”. Segundo a WABA, a escolha deve-se à vontade de tocar e conversar com todos os tipos de pais no mundo atual. Dar suporte para que o casal se empodere é fundamental para que entendam os propósitos do aleitamento. E, para que isso aconteça, a WABA defende que é preciso que toda a comunidade se envolva no processo. 

“A amamentação é um domínio da mãe, e quando pais, parceiros, familiares, colegas de trabalho e comunidades apoiam-na, a amamentação melhora. Nós todos podemos apoiar esse processo, porque a amamentação é um trabalho de equipe. Para possibilitar a amamentação, todos nós devemos protegê-la, promovê-la e apoiá-la.” 

Entre os objetivos da SMAM 2019, estão: informar as pessoas sobre os vínculos entre proteção social parental com igualdade de gênero e amamentação; vincular iniciativas de apoio à maternidade/paternidade e normas e leis sociais com igualdade de gênero em todos os níveis para apoiar a amamentação; envolver-se com indivíduos e organizações para um maior impacto; e mobilizar a sociedade para ampliar a proteção social parental com igualdade de gênero para apoiar e promover a amamentação. 

Com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre os diversos benefícios do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade do bebê – conforme indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – e como hábitos como chupar chupeta ou mamar na madeira podem ser a resposta para problemas respiratórios, por exemplo, a Aliança pela Infância conversou com o Dr. Alexandre Rabboni. O especialista é cirurgião dentista antroposófico com atuação em odontopediatria, ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, e autor do livro Aleitamento Materno: um Banho de Vitalidade.

 

Aliança pela Infância: Como se deu seu interesse pelo tema aleitamento materno? 

Dr. Alexandre Rabboni: Na minha infância, eram poucos os casos de pessoas que usavam aparelho ortodôntico. Nos anos 90, na época em que fiz faculdade de Odontologia, entretanto, comecei a notar índices cada vez maiores de necessidade de correção. Uma das coisas que mais chamava atenção era a necessidade de trabalhar conjuntamente o desenvolvimento da boca junto com postura e respiração. Como médico antroposófico, queria entender o motivo de tudo isso. E fui começando a perceber que as bocas precisavam de aparelho pois estavam cada vez menores. E isso acontecia porque as crianças mamavam menos no peito, considerando que os índices de amamentação nos anos 90 eram extremamente preocupantes. Eu costumo dizer que a amamentação é o primeiro aparelho ortodôntico que usamos, pois quando estamos mamando no peito desenvolvemos as arcadas dentárias. 

 

API: É possível apontar um fator principal para as mulheres não seguiram a determinação de alimentar seus bebês exclusivamente com leite materno até os seis meses de vida? 

Dr. Alexandre: Eu acredito que há um conjunto de fatores. Na história do aleitamento materno, existiram as amas de leite para que as patroas não amamentassem. Na década de 90, começamos a buscar a retomada do aleitamento pela consciência do quanto isso é importante. Mas nessa época, os maiores índices de aleitamento estavam em grupos que não tinham outro alimento pra dar e acabavam dando exclusivamente o peito. Depois começamos a ter um aumento do número de meses da criança sendo amamentada entre pessoas de classes mais altas, que tiveram mais formação escolar. Na minha visão, a propaganda teve uma grande contribuição negativa sobre o tema. Produtores de leite escrevem em rótulos sobre a quantidade de vitaminas e de componentes que enriquecem o leite, o que acaba deixando uma imagem no inconsciente coletivo de que o produto na lata é melhor do que o leite do peito da mãe. 

 

API: Como se dá esse processo de conscientização das pessoas sobre a importância da amamentação? 

Dr. Alexandre: Desenvolvi um trabalho na Associação Comunitária Monte Azul com grupos de pessoas com os menores índices de aleitamento. Eram pessoas de baixa renda, primigestas (mulher que tem sua primeira gravidez). Mas percebi que trazendo informações básicas, acessíveis e simples, todo mundo – seja uma pessoa da área de saúde ou não, com ou sem formação superior -, entendia o benefício e o ato de dar de mamar se instalava rapidamente. O processo é simples, mas não é simples de fazer. E aqui cabe a pergunta: qual é a rede de estrutura que vamos colocar a disposição da mãe? O foco fica muito na criança. Falamos muito sobre o benefício para o bebê, sua respiração e ganho de peso, e com isso acabamos deixando de lado a mãe, que precisa dessa atenção. 

 

API: Essa ideia de dar atenção às mães relaciona-se ao tema da SMAM deste ano, sobre empoderamento dos pais e envolvimento de toda a sociedade para com a causa da amamentação, nesse sentido de oferecer uma rede de apoio. Essa é realmente uma agenda que deve ser apoiada por toda a população? 

Dr. Alexandre: Quando falávamos de aleitamento na Monte Azul, todo mundo participava: segurança, faxineira, agentes comunitários, enfermeiros e médicos. Era comum que qualquer mãe que chegasse com uma criança na mamadeira, a pessoa que estava fazendo a faxina, por exemplo, largava a vassoura, sentava do lado e orientava. Para que algo aconteça, seja em qualquer assunto, é preciso envolver todas as pessoas, desde aquela que está atuando no campo até quem está formando outras pessoas, senão a chance de sucesso cai assustadoramente e sempre vai ter esse fluxo interrompido em algum momento. A sacada da SMAM deste ano de empoderar a família é interessante, pois a mãe não sabe ser mãe, nem o pai, nem a avó ou o avô. Todo mundo precisa dessa atenção. 

 

API: Qual é o papel da sociedade? 

Dr. Alexandre: A informação mais importante é: saúde é uma questão de cultivo. No pré-natal a mãe busca isso e vemos mudança de hábitos: ela para de fumar, de beber, começa a regular o sono e se tem a possibilidade, começa a reduzir a carga de trabalho. É papel do entorno dar condições para que essa mulher tenha um bom parto e um bom período de aleitamento, o que significa um bebê e posteriormente um adulto saudável. Muitas empresas já entenderam que quanto mais saudável a mãe e o bebê forem, mais a disposição da empresa e da sociedade ela estará. Há muitas organizações investindo em berçários, em licença paternidade. É preciso mudar a perspectiva, para um cultivo de saúde e não tratamento de doenças. E o primeiro passo para isso é a criança mamar no peito.  

 

API: Qual é a diferença em termos de desenvolvimento de uma criança que mamou no peito do que aquela que usou mamadeira? 

Dr. Alexandre: Quando a criança mama no peito, a musculatura envolvida é a mesma que será ativada na mastigação no futuro. Na mamadeira, são utilizados músculos totalmente diferentes. No peito, o bebê abocanha a mama, o máximo da aréola, e a língua faz uma intensa pressão positiva para tirar o leite. Na mamadeira, é quase que uma força exclusiva nos músculos da bochecha. É um movimento de sucção, como se fosse um canudo, o que não é natural da atitude humana. Há pessoas que falam para fazer um furo pequeno no bico da mamadeira, o que é ainda pior, porque o bebê vai forçar ainda mais e trabalhar em um padrão equivocado. No peito, a criança mama quinze minutos sem precisar tirar a boca, porque ela aperta a mama, tira o leite com pressão positiva, e continua respirando pelo nariz e mamando. Na mamadeira, a criança para de mamar para respirar. É preciso entender a diferença: não é sucção da mama. Pessoas que trabalham com aleitamento materno entendem que o correto é falar em ordenhar, e não sugar, como é feito na mamadeira. Sugar causa estreitamento das arcadas, o que eleva o palato [céu da boca], que por consequência eleva o chão da cavidade nasal, que desvia o septo e assim são desenvolvidas uma série de alterações. 

 

API: Além dos aspectos biológicos, como a amamentação contribui para a construção de vínculos entre a mãe e o bebê? 

Dr. Alexandre: Além do aspecto biológico, o aspecto afetivo também é muito importante, nesse contato e relação que a mãe e o bebê estabelecem durante a amamentação. Uma pessoa que amamenta por um período prolongado, que recebe esse calor e esse amor materno de forma prolongada, irá estabelecer vínculos sociais e humanos que serão guardados pra vida toda. Mas é preciso reforçar que a mãe que não dá de mamar ama o filho da mesma forma. Nós devemos esgotar todas as possibilidades de apoiá-la na direção desse cultivo, para que seja um bebê e posteriormente um adulto saudável. É preciso que fique claro: não é que uma mãe que não amamenta o filho não o ame, mas o benefício do ato é estendido pela vida toda. O aleitamento materno, não só no que diz respeito ao bebê ou à mãe, mas todo esse entorno que envolve o aleitamento, é a ponte para que possamos de fato humanizar as relações, que estão muito difíceis atualmente. Falamos de divisões e polarização. O aleitamento é essa ponte que nos une a todos na saúde

 

*Imagem: divulgação oficial da SMAM 2019. 

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