Por Dr. José Moacir Lacerda
08.08.2013
Mais um ano e mais uma semana dedicada ao aleitamento materno. E o tema deste ano é aconselhamento. Aconselhamento ao aleitamento materno. Mas quem sou eu para escrever sobre aconselhamento ou quem somos nós para aconselharmos uma mãe que tem em seus braços – e se a boa ventura permitir, em seus peitos – um bebê. Um bebê ávido por leite. Um bebê ávido por leite materno.
Temos visto nos números oficiais e nas casuísticas de consultórios de pediatria que a oferta de leite materno exclusivo até os 6 meses é muito menor do que o desejado. Mas por que isso ocorre ainda é uma grande interrogação, pois qualquer pediatra ou agente de saúde deve aconselhar adequadamente as mães para que amamentem seus filhos o quanto for possível, não? Nem sempre, posso me arriscar a responder.
Quanto tempo se oferece de consulta ou mesmo de acolhimento a uma mãe e um bebê recém-nascido (RN) em consultórios da rede pública e da rede privada que privilegiam principalmente o atendimento por convênios? Vinte minutos? Trinta minutos (se o profissional tiver um pouco de paciência com o tirar e recolocar as roupas do RN)?
Imaginem só como deve ser vapt vupt colher a história de gestação, do parto, da família e ainda por cima examinar o bebê, prescrever as vacinas (são mais de vinte vacinas administradas só no primeiro semestre de vida do bebê), prescrever a complementação de vitamina D (prescrever apenas porque explicar o porquê, se for possível, só numa próxima consulta) e repetir, quase como um mantra, amamente seu filho. E tchau. Próximo!
Em paralelo a essa rapidez da consulta, temos a rapidez da informação veiculada pela mídia. Oficialmente e subliminarmente (alguém dúvida que ainda hoje exista propaganda subliminar?) se bombardeiam as mães com a informação de que o leite x é a melhor opção para quem não pode amamentar, de que o leite y tem as melhores adaptações para se assemelhar ao leite materno e assim por diante. Mas lembrem-se que esses maravilhosos produtos só devem ser administrados nos casos em que você mamãe não pode oferecer seu leitinho ao seu bebezinho.
Não se preocupem que vocês não estão sozinhos. Assim como vocês, uma legião de mães muito práticas e bem-sucedidas também estão se beneficiando com esses nossos fantásticos produtos. Além do mais, no mercado do sucesso ininterrupto não existe tempo para cansaço, suas babás podem dar nas maravilhosas mamadeiras que nossos parceiros estão produzindo e que são livres de BPA, ou seja, não será por nossa culpa que eles terão a terrível doença que o homem, ainda, não descobriu a cura.
Assim, nessa acirrada queda de braço quem, na maioria das vezes, sai perdendo é o bebê e sua mãe que não tem tempo de curti-lo. Até porque em 60% dos partos da rede pública e 90% da rede privada nasceram de uma cesárea, uma dolorosa cesárea, que dificultará o acolhimento, o aninhamento dele em seus peitos.
E lá vamos nós receber e atender essas mães e orientá-las a amamentar. A oferecer seu precioso leite (esse, realmente precioso) contra tudo e contra todos. Ou quase todos. Porque existe uma parcela de profissionais que mesmo nesses adversos lugares conseguem interagir positiva e emocionalmente com essas mães e com esses bebês e conseguem não aconselhar mas orientar, trocar experiências, se emocionar e emocionar o paciente dentro daquela interação que só um profissional que deixou de ser um tecnocrata (ou que nunca foi) tem condições de fazer.
Não é necessário aconselhar, basta não atrapalhar a sábia natureza e acolher os calorosos seres recém-chegados e suas calorosas mães com um real e caloroso coração. É possível! Assim creio eu.
Doutor José Moacir Lacerda