No ritmo do tema da Semana Mundial do Brincar 2017, que tal refletirmos sobre as brincadeiras que aproximam as crianças do que é natural? Os movimentos dos elementos da natureza têm a potência de nos conectar profundamente com a ideia de tempo.
“Brinquedos do Chão” é o primeiro de uma série de quatro livros que penetram no universo infantil para apresentar brincadeiras comuns das crianças sob uma nova perspectiva: relacionando-as com os elementos da natureza (fogo, água, terra e ar) . O livro é parte de um projeto do Instituto Alana (http://alana.org.br/).
Gandhy Piorski, o autor, é artista plástico, teólogo e estudioso do brincar e do brinquedo há mais de 20 anos. Além de um vasto conhecimento acadêmico, ele transitou por dezenas de cidades do Norte e Nordeste do Brasil registrando as brincadeiras que aparecem no livro. “A imaginação é a verdade da criança – comenta Gandhy – e os 4 elementos da natureza a habitam, são como um código de expressão dessa vida imaginária”. “Os brinquedos do chão fincam a criança no mundo e também a acordam para firmar o mundo em si.”
Esse imaginar da criança se expressa de forma diversa, dependendo da influência dos elementos com os quais ela lida:
– Fogo: criação de imagens e narrativas quentes, calóricas, agitadas, guerreiras, apaixonadas, acolhedoras e amorosas;
– Água: faz viscejar uma corporeidade fluida, entregue, emocional, saudosa e até melancólica, lacrimosa pela alegria ou pela saudade;
– Ar: construção de uma materialidade das levezas, da suspensão, dos voos. Faz brinquedos expansivos, com coisas leves, penas, sublimações do brincar;
– Terra: Faz coisinhas enraizadas no mundo, na vida social, no interior das formas, buracos, miniaturas, esconderijos, numa busca pela estrutura da natureza.
A infância mágica de Gandhy, no interior do Maranhão, ajuda a explicar o encantamento do autor por esse brincar livre e criativo das crianças: “Dos 0 aos 8 anos morei em cidades pequenas cheias de histórias de encantarias, onde as culturas das crianças desses lugares sabiam absorver bem, trazer para seus cotidianos, esses encantados contados pelos adultos. Então tinha muita riqueza, como – por exemplo – nas noites de eclipse lunar as crianças saíam para os jardins a bater com colheres de pau em panelas e latas ao pé das plantas e flores para que elas não dormissem para sempre com o eclipse.”
O envolvimento mais pragmático de Gandhy com esse brincar das crianças começa a ter forma nos anos 90, quando conhece o mestre Zezito – que lhe transmite um maravilhamento pela alma do brinquedo tradicional feito por artesãos. Gandhy resolve, então, montar uma oficina a fim de dar forma a brinquedos, além de pensar espaços para o brincar livre.
*trecho extraído do livro
Este livro inaugura uma série que explora a imaginação do brincar e sua intimidade com os quatro elementos primordiais: terra, fogo, água e ar, e revela a voz livre e fluente da criança em sua trajetória de moldar a si própria. Espelha o universo simbólico do brinquedo nascido das mãos da criança que, em comunhão com a natureza e em sua vivência transcendente, significa o mundo.
O trabalho contínuo da criança é criar imagens enredadas ao mistério de nascimento e morte, aos elementos naturais que regem a vida, ao início das coisas, assim como nas mitologias da criação do mundo. Ao percorrer as trilhas da imaginação, da natureza e do brincar, o autor radiografa a alma da criança em seus gestos genuínos, o fazer de seus brinquedos.
O primeiro volume é dedicado aos brinquedos da terra, que caracterizam, nas produções material, gestual e narrativa da infância, a investigação da matéria e as operações da imaginação no forjar a elaboração e o enraizamento dos papéis sociais na família, na comunidade e no mundo.
A busca dos brinquedos da terra é pela concretude, pela construção de intimidade e individualidade, pois é da natureza da terra produzir corpos, seres únicos ocupando espaços únicos. A intimidade almejada pela criança no brincar se projeta para a descoberta do íntimo da natureza e das coisas, do que tem dentro dos corpos dos bichos, das plantas, dos brinquedos que precisam ser quebrados e desmontados.
“Tenho andado em muitas comunidades, tanto do interior do Brasil, quanto das grandes cidades. Nesses contatos é que vemos o quanto ainda estamos distantes de reconhecer as crianças, o quanto estamos distantes de uma condição educacional que realmente respeite nossos filhos e filhas. Não só nas comunidades. Nos melhores estabelecimentos de educação também.
O que desejo ainda é longínquo, mas não é inatingível. Considero alcançável desenvolvermos um saber familiar, pedagógico, cultural, civilizacional que nasça dos anseios mais genuínos de cada criança . Para isso precisamos de uma academia que forme pedagogos pelas vias da lógica intuitiva e simbólica. Para isso necessitamos de pais audíveis às ressonâncias do Ser. Para isso precisamos restituir os mais simples saberes das populações brasileiras que amalgamaram nossa alma. Para isso necessitamos redirecionar nossa rota civilizacional.
Nada pequeno tudo isso. Mas a consciência das gerações aos poucos caminha, ascende, num movimento quase imperceptível, mas caminha”…
Obrigado por sonhar alto e materializar esse sonho na forma desse belo livro, Gandhy!
Brinquedos do Chão: A Natureza, o Imaginário e o Brincar
ISBN: 9788575964163
Edição: 1
Ano de edição: 2016
Formato: 17×24
Páginas: 156
Idioma: Português
Capa: Brochura
Para saber mais e adquirir: http://www.omnisciencia.com.br/brinquedos-do-chao/p