Brincando a criança aprende a se relacionar com o mundo a sua volta, cria a si mesma e acredita em novos mundos possíveis
Em 2022, a Semana Mundial do Brincar convida a todas e todos para “Confiar na força do Brincar”, tema escolhido para espalhar o brincar pelos quatro cantos do país como um ato transformador e essencial. A SMB acontecerá entre os dias 21 e 29 de maio e qualquer pessoa pode participar, criando e executando ações relacionadas ao tema.
Está na carta de princípios da Aliança pela Infância que “a infância é tempo de aprender a confiar“. Por isso, em 2022, quando o movimento completa 21 anos – sua ‘maioridade’, olhamos à nossa volta e, em meio a um contexto social tumultuado, revemos a nossa trajetória e voltamos nosso olhar para nossa essência: confiar que podemos proporcionar a nossas crianças uma infância plena e digna.
Nesta Semana Mundial do Brincar queremos reforçar nossa confiança no brincar como um ato essencial, que é da natureza da criança e uma força humana.Confiar no brincar é confiar na alegria, é confiar no encontro. Brincar é estar no mundo e confiar que ele vai dar certo, que tudo pode ser melhor, se estivermos firmes e atentos ao valor da vida.
Também acreditamos no brincar que proporciona espaço para uma relação de confiança, respeito e reconexão com os elementos da natureza, com a terra, com o vento, com a água, e com a concretude da natureza que envolve a criança e que é envolvida por ela.
É preciso confiar que de uma semente plantada crescerá uma árvore. Queremos chamar a atenção para a importância de nutrir ação e linguagem lúdicas da criança, pois brincando a criança aprende a se relacionar com o mundo a sua volta, cria a si mesma e acredita em novos mundos possíveis.
A criança ao brincar está aprendendo o tempo todo a conhecer as potências e limites do seu corpo, do espaço, das outras crianças e adultos. Por isso, nessa Semana Mundial do Brincar, queremos lembrar que o brincar é um mergulho na confiança da criança em si mesma, nos outros e no mundo. É assim que o invisível se torna visível, e que o impossível se torna possível.
A seguir, propomos outras reflexões acerca do tema:
O brincar livre
Notamos uma diminuição do brincar ativo durante a pandemia e o empobrecimento das experiências do brincar coletivo, devido ao longo período de distanciamento social, fechamento das escolas, e outros cuidados que foram necessários durante esse período. O brincar em ruas, praças, parques e outros espaços foi prejudicado, assim como a cultura das infâncias compartilhada entre as crianças que, quando juntas se expressam em liberdade, convivem, exploram o mundo, se conhecem e brincam. Olhamos para a forma como crianças viveram os períodos mais graves desta pandemia, e precisamos olhar para como cuidar das infâncias e valorizar os encontros e os vínculos de afeto e confiança por meio do brincar livre durante esta gradual retomada da socialização. Naturalmente, sempre atentos a medidas de segurança, de acordo com a realidade de cada território, pois ainda estamos vivendo uma pandemia.
A confiança no outro
A confiança no outro também é uma prática cotidiana. Aprender a se relacionar, a tolerar, a confiar no melhor que o outro pode compartilhar conosco e criar vínculos de afeto por meio do brincar deveriam ser rotinas da infância. Por conta da pandemia, a diminuição do brincar coletivo entre as crianças também pode ter dado a elas uma representação do outro como “doença ou perigo”. É necessário e urgente resgatar a confiança das crianças na vida – sua e do próximo.
Confiar na natureza
É hora de confiar na potência da natureza, buscando mais respeito e reconexão com o meio ambiente. Confiar que de uma semente plantada crescerá uma árvore e que natureza não é algo para ser ‘explorado’; afinal, tudo é natureza – e nós também. É preciso cuidado e afeto com florestas e rios, seus percursos narram quem somos e também irão banhar gerações futuras.
A autoconfiança
E podemos trabalhar, também, a autoconfiança, uma vez que o brincar é um mergulho em sua própria potência. Eu acredito em você. A autoconfiança estimula mais cuidado e amor consigo mesmo, o que também contribui para relações abertas e sinceras, que trazem mais segurança para as crianças, sobretudo em casos em que elas podem, por exemplo, atravessar situações de abuso e outras violências – físicas ou psicológicas – e precisam confiar em um adulto para falar.
O brincar que encanta a cidade
É preciso ocupar o espaço urbano com o brincar que traz uma relação direta com a diminuição da violência e a confiança das pessoas em habitar a cidade. Espaços públicos seguros e confiáveis, livres de violência são lugares de brincar, de encontro, de convivência e de alegria.