Por Mayara Penina
“Desde o início da pandemia, eu fiquei preocupada com a questão do brincar, porque dentro de casa é bem diferente do brincar na escola, na praça, na praia. Tem toda essa questão do movimento, do espaço. Aí eu me preocupei em deixar um ambiente para que eles pudessem brincar, disponibilizando não só brinquedos já prontos, mas também materiais, tecidos, caixas, blocos, sucata, para que eles pudessem criar suas histórias, suas brincadeiras. Permiti que eles brincassem em todos os lugares da casa, não só no quarto deles. Afinal, eles moram na casa inteira”.
O relato acima é de Luana Cruz, mãe dos gêmeos Manuela e Luiz Henrique, de 4 anos, matriculados na UME (Escola Municipal de Educação Infantil) Leonor Mendes de Barros, em Santos (SP). Ele mostra que a casa sempre foi um espaço de brincar da criança, mas especialmente por conta da pandemia e a necessidade do isolamento social, seus espaços têm se ressignificado.
Com as escolas fechadas para atendimento presencial desde 2020 em decorrência da pandemia de Covid-19, profissionais da educação do Brasil inteiro tiveram que se reinventar no contato com as famílias.
Um levantamento feito pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação mostra que 95% dos 3.672 municípios consultados afirmaram ter dificuldades em usar a internet na comunicação com os estudantes. A pesquisa concluiu que os alunos da Educação Infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental foram os mais afetados por não irem à escola na pandemia.
Mesmo diante de todos os desafios impostos, educadores têm buscado maneiras de manter o vínculo com os pequenos e se esforçado para manter uma escola além dos muros. Algumas escolas conseguiram incentivar a brincadeira como caminho para aprendizagem, como é o caso da UME Leonor Mendes de Barros em Santos. “A escola foi bem acolhedora, foi compreensiva, não tivemos cobranças de atividades, de coisas que estavam além do que poderíamos fazer. O mais importante é que a gente não perdeu o vínculo com a professora. Eu acho que esse vínculo foi mais forte durante a pandemia do que em tempos normais.
Pelo menos no nosso caso foi mais forte do que em outros tempos que a gente só deixa a criança na escola e vai trabalhar e volta correndo”, conta Luana Cruz.
Em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo, uma professora de Educação Física também se esforçou para incentivar que as crianças continuem em movimento, mesmo estando em casa. “Eu sempre estou procurando proporcionar experiências que os alunos possam se movimentar, brincar, socializar em casa entre os seus pares. Para que a gente possa também conscientizá-los a permanecer em casa nessa situação de pandemia”, conta a educadora Priscila Lima.
Na disciplina de Educação Física, foram propostas brincadeiras, jogos e diferentes tipos de registros, como áudios, vídeos, desenhos, e construções de brinquedos. “Sempre atrelado a desafios, que eles possam utilizar os materiais da casa, organizar diferentes espaços”, conta Priscila, que atua nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Desde 2018, a cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, instituiu toda última semana do mês de maio como a Semana Municipal do Brincar em seu calendário oficial.
Na Escola Municipal Professora Elisabeth Consolmagno Cruz, inspirados na proposta de valorizar o brincar de casinha, a casa e as tradições antigas e jogos lúdicos passados de geração em geração, as atividades presenciais levaram como tema o uso dos espaços da escola e protagonismo no brincar.
“Foi muito bacana trabalhar esse sentimento de pertencimento com as crianças para que cada vez mais a gente possa diversificar, usar esses espaços e as crianças saberem que a escola de uma forma inteira é delas e que elas precisam cuidar e valorizar esse espaço para continuar usufruindo”.
Já em Santos, Luana e seus filhos participaram da Semana Mundial do Brincar de casa, em contato de maneira remota com os professores. “Fizemos brincadeiras de construção de cabaninha, de esconde-esconde, brincadeiras que eles já vinham fazendo durante a pandemia, mas que por mais que eles brinquem de cabaninha todo dia nunca vai ser a mesma cabaninha, nunca vai ser a mesma história, é uma coisa que que tem fim, uma brincadeira que nunca acaba”.