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Adulto também brinca: como foi a Semana Mundial do Brincar no ensino superior

25 de julho de 2018

Com o fim da Semana Mundial do Brincar (SMB) e as inúmeras matérias contando um pouco mais sobre as diversas experiências que aconteceram em diferentes cantos do país, é hora de refletir. A equipe da Aliança pela Infância recebeu relatos e ouviu muitas pessoas falando sobre “o resgate de brincadeiras”. Mas por que é preciso resgatar esses jogos e dinâmicas? Em que ponto da história eles se perdem?

Muitas possibilidades se apresentam à essa resposta, como, por exemplo, a pressão que todos sofrem ao ingressar na vida adulta e no mercado de trabalho, deixando “costumes de criança” para trás para assumir suas responsabilidades. As experiências durante a SMB mostraram, entretanto, que uma coisa não anula a outra: é possível ser um adulto comprometido e responsável e ainda ver graça e alegria em dinâmicas simples, como brincar de bola de gude e pião.

Não inserir o tema do brincar logo no ensino superior, na formação inicial de professores, é outra possibilidade para a gradual falta de empolgação, tanto de crianças quanto de adultos, com as brincadeiras. A cada dia, os aparelhos eletrônicos ganham mais espaço na mão de crianças e jovens, em detrimento de brincadeiras em praças e parques.

O brincar na formação inicial

Tanto na programação da SMB quanto nos relatos recebidos no pós-evento, a Aliança percebeu alguns atores já preocupados com esse tema. Bethania Rezende, professora do curso de Pedagogia da Faculdade Victor Hugo, localizada em São Lourenço, município de Minas Gerais, decidiu transformar a participação de suas alunas na Semana Mundial do Brincar no encerramento da disciplina “Fundamentos e princípios de atividades lúdicas”.

“Durante o semestre, fui ensinando algumas brincadeiras para as meninas, juntamente com fundamentos e teorias. Também pedi para que elas entrassem no site da Aliança para ler o guia e entrar em contato com outras experiências. Nós temos um grupo fechado no Facebook, então eu postava vários materiais para elas se inspirarem. Foi a primeira vez que trabalhei a SMB na faculdade”, explica Bethania.

A educadora ressalta que a atividade foi pensada considerando as características de São Lourenço: uma cidade turística. Apesar de terem feito convites virtuais e nas escolas, as alunas de pedagogia não sabiam se as crianças realmente apareceriam na Praça Brasil para brincar. Então, optarem por proporcionar brincadeiras para todos os gostos e idades.

“Pensamos em brincadeiras tradicionais e que pudessem ser feitas ao ar livre. As meninas também tiveram uma ideia super bacana de fazer as danças circulares. Era uma coisa que eu não conhecia, mas nós sempre aprendemos muito com os alunos. Também planejaram jogos com bolas, corda e bolas de sabão para dividir os grupos em setores e assim atingir o maior número de crianças.” Durante toda a manhã, cerca de 50 crianças, desde bebês até jovens, brincaram e se divertiram.

Todo esse processo de apresentação da Semana Mundial do Brincar, fundamentação sobre o ato e importância do brincar, até a elaboração de atividades, proporcionou inúmeros aprendizados para as estudantes. Bethania conta que a mudança de pensamento foi um ponto evidente. “Depois que mostrei todo o material e passei vídeos, elas entenderam que a valorização do brincar não é só trazer brinquedos e jogos. A primeira ideia delas era trazer materiais para rua. Então, falei que não precisamos ficar tão apegadas à material. A criança quer contato humano, quer uma participação ativa, quer se sentir brincando com outras pessoas.”

Colocar em prática um projeto mais envolvente, no qual as universitárias tivessem oportunidade de desenvolver suas próprias atividades também foi um ponto positivo, já que todas puderam aplicar a teoria que aprenderam durante o semestre. “Na sala, existem estudantes de diversas gerações, então eu também preciso pensar em uma aprendizagem mais envolvente. A minha intenção era que elas colocassem a mão na massa e não ficassem presas àquelas falas prontas de que ‘brincar é importante, brincar é coisa séria’. Precisamos de fato valorizar o brincar como algo importantíssimo para o desenvolvimento da criança. Assim como alimentação é importante, o brincar é importante. Nós que estamos na formação de pedagogos, devemos entender que é preciso levar isso à sério, com estudos aprofundados e discussões, estudando e nos aprofundando para estarmos preparados em sala de aula.”

Palestras e vivências

Assim como as atividades da educação infantil e do ensino fundamental, as discussões sobre o brincar no ensino superior também viajaram o Brasil. Em São Paulo, Cristiano dos Santos Araújo conta que participou de programações em diversas universidades, como na faculdade Centro Paulistano Interlagos, com uma palestra de Roselene Crepaldi sobre a importância do movimento Aliança Pela Infância, seguida de uma parte prática com brincadeiras cantadas para os estudantes de pedagogia recordarem como é brincar e se envolver em uma atividade lúdica.  

Cristiano também esteve presente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-Usp), que foi palco de uma palestra com tema de “Jogos Cooperativos da Infância”, além de ministrar uma palestra no curso de babás do espaço Curumim sobre a importância do brincar em casa e em ambientes sociais, além da importância do acompanhante da criança estar envolvido na prática do brincar durante todo o processo de desenvolvimento.  

“Foi incrível estar presente em ambientes tão diferentes para falar sobre o brincar de corpo e alma. Foi interessante perceber como o brincar integra e faz com que consigamos, por aquele período de tempo, estar envolvidos realmente e unicamente no jogo, deixando de fora tensões, estresse e outras situações que tanto nos afastam de nossa criança interior”, explica Cristiano.

Já Andrea Silva Tanil conta como alunos de cursos do Ensino Superior tocaram as brincadeiras em São Vicente, em São Paulo. O Brinca Facul, como foi nomeado o evento, contou com a participação de 130 crianças de um colégio de Ensino Fundamental e crianças que vivem em abrigos da região, a partir do apoio do Conselho tutelar de São Vicente. As atividades foram dirigidas pelos alunos dos cursos de Educação Física e Pedagogia.

“Receber crianças da região para passarem por diferentes atividades foi maravilhoso, tanto para as crianças como para nossos alunos, que puderam vivenciar na prática todo o conteúdo absorvido durante o curso. Receber as crianças dos abrigos foi o momento mais especial do evento”, ressalta Andrea.

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