SMB 2018: Ute Craemer escreve sobre “Corpo e Alma”

18 de maio de 2018

Afinal, o que é a alma? É com questões nada fáceis como esta que Ute Cremer coloca sua visão do brincar. Pedagoga Waldorf, educadora comunitária e uma das fundadoras da Aliança pela Infância e da Associação Comunitária Monte Azul, Ute é autora de livros que tratam de temas ligados à infância e dirigiu peças teatrais, criações coletivas de atores: Semeando Dignidades (2004), A Criação do Mundo (2006) e Tupã Tenondé (2010).

 

CORPO E ALMA
por Ute Craemer

Pergunto a vocês: existe corpo sem alma? Existe alma sem corpo? O que é alma afinal? É o mesmo que espírito? São questões que desde o primeiro sopro no portal do nascimento até o último suspiro no portal da morte nos acompanham – conscientemente, semiconscientemente ou inconscientemente.

Quando olhamos um bebê nos primeiros momentos de sua vida, vislumbramos no seu olhar – às vezes tão profundo que parece penetrar no mais íntimo do nosso ser – como se estivesse dizendo: eu sei quem é você, sei mais que você!

E quando nos entregamos a esse olhar, sem desviar, sem medo da sua seriedade, surge o enigma: de onde vem esse ser que parece ao mesmo tempo tão vulnerável e tão sábio, tão frágil e tão profundo? Será que veio só da junção de pai e mãe? Ou os pais foram só um veículo para uma centelha divina poder se encarnar aqui na Terra, um ser que agora procura um corpo e uma alma para cumprir sua tarefa aqui, procurando os obstáculos, as pedras no caminho que o desafiam e, com isso, lapidam o ser humano na sua individuação. Perguntas e mais perguntas…

Importante é que nós adultos não matemos essa certeza que toda criança tem da sua origem espiritual, independente da religião. Nossa tarefa, dos pais, dos educadores e de todos os adultos que formam o entorno da criança é clara: ajudar esse ser a se orientar primeiro no seu corpo, a se encarnar, da cabeça aos pés, e ao mesmo tempo viver na Terra.

Nos primeiros 15 ou mais anos depende de nós, adultos, para que possam revelar seus talentos, desenvolverem-se conforme seu tempo e sua maneira. São tarefas bem concretas: amamentar, trocar a fralda, criar o laço com o bebê, olhar sem estresse, responder o sorriso da criança, criar um ambiente caloroso. Uma entrega apesar da correria do dia a dia. Em uma palavra, AMAR. Como a sabedoria guarani expressa na criação do mundo:

“Antes de existir a terra,
Em meio à Noite Primeira,
E antes de ter-se conhecimento das coisas
O Amor era”

Aos poucos, na hora certa – certa para cada criança – ela vai tentar uma, 10 ou 50 vezes erguer seu corpo, procurar o equilíbrio entre Céu e Terra. Vai conquistar seu corpo cada vez mais: engatinhando, arriscando o primeiro passo, caindo, se levantando, caindo e levantando até conseguir. Quantas lições podemos aprender desse processo para a vida de adulto. De onde vem essa vontade férrea de se erguer do chão? Erguer, como disse o Tupã Tenondé, é criar consciência e acordar o coração.

A vida infantil continua juntando alma e corpo na brincadeira, criando e se inteirando com as forças, as belezas e os desafios da natureza, seus materiais diferentes, suas cores, texturas, pesos. Criar uma história, construir uma cabana com panos, esconder-se e convidar alguém para se aconchegar com ela. Quantas possibilidades com poucos recursos, conquistando cada vez mais a confiança e segurança para que a criança se sinta presente. “Eu estou aqui!”

Aqui, graças a meu corpo que se movimenta, corre, sobe escadas e árvores, e assim cria segurança corpórea e autoconfiança na vida. Uma junção harmônica entre alma e corpo possibilita a individualidade e contribui para a humanização da vida.

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