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Brincar: uma condição essencial para o desenvolvimento da criança, por Cristina Silveira

17 de abril de 2016

Por Cristina Silveira

O Brincar é um direito da criança, como apresentado na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente, que acrescenta no Capítulo II, Art. 16°, Inciso IV, que “ toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e divertir-se”

Mas, mais do que um direito, o brincar é uma condição essencial para o desenvolvimento da criança. Através do brincar, ela pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação. Ao brincar, exploram e refletem sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas, interiorizando-as e, ao mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais.

O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Para além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, o brincar proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.

Esse desenvolvimento feito a partir da brincadeira, se dá desde os primeiros anos de vida, quando a criança está no berço e explora o mundo através dos brinquedinhos. A partir de um ano, quando uma criança brinca de tirar e colocar brinquedos em uma caixa, ela está exercitando a sua liberdade de escolha, se organizando quando escolhe o que tira e o que coloca, desenvolvendo os movimentos, o corpo e a linguagem e a forma de pensar.

Aos dois anos, já inicia a fase do imaginário, onde a criança começa a imitar a ação dos outros e com isso interagindo com o mundo a sua volta, ou seja, com a sua cultura. A partir dos 03 anos, os brinquedos são uma ferramenta essencial para que as crianças possam falar aquilo que estão pensando, através do faz de conta. Por isso brinquedos que imitam o seu dia a dia como bonecas, casinhas, carrinhos, são essenciais para esse domínio e amadurecimento da comunicação, da representação e do seu amadurecimento psíquico.

Os jogos e regras e normas, são altamente importantes para que a criança, que aprende a partilhar situações de ganhar e de perder, aprendendo a conviver com as suas próprias frustrações, além de desenvolver habilidades como estratégias, flexibilidade, criatividade, inventividade, capacidade de escolha e desenvolvimento do raciocínio. Nesse raciocínio, inclui-se o matemático, do uso da linguagem, do domínio espacial, sendo, portanto, a brincadeira importante em todas as áreas do conhecimento, porque a criança aprende a pensar.

É na brincadeira que a criança consegue vencer seus limites e passa a vivenciar experiências que vão além de sua idade e realidade, fazendo com que ela desenvolva sua consciência. Dessa forma, é na brincadeira que se pode propor à criança desafios e questões que a façam refletir, propor soluções e resolver problemas. Brincando, elas podem desenvolver sua imaginação, além de criar e respeitar regras de organização e convivência, que serão, no futuro, utilizadas para a compreensão da realidade. A brincadeira permite também o desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o desenvolvimento físico-motor, bem como o do raciocínio e o da inteligência.

Mas o Brincar é aprendido. A criança precisa ter estímulo, tempo e espaço para brincar. É importante que a família e a escola proporcionem um ambiente rico para a brincadeira e estimulem a atividade lúdica nesses ambientes, fazendo com que elas explorem as diferentes linguagens que a brincadeira possibilita (musical, corporal, gestual, escrita), através de brincadeiras e brinquedos variados, sendo que esses últimos, podem ser inclusive construídos com materiais alternativos.

Quando os pais brincam com os filhos, podem ensiná-los a perder medos e a lidar com frustrações. A aproximação dos pais com os filhos é fundamental para o futuro das crianças. É a melhor forma de ajudá-los a desafiar a vida e a vencer alguns obstáculos. Eles se sentem mais confiantes, pois têm a pessoa amada ao seu lado. Mas as famílias modernas acabaram deixando a brincadeira de lado. Não há tempo. Geralmente, os pais saem de casa para o trabalho antes de seus filhos acordarem e quando voltam, eles já estão dormindo.

Assim, para preencher o espaço deixado por eles, os DVDs, os jogos eletrônicos, até os cursos de idiomas, esportes, etc. são usados para isso. Portanto, podemos entender que não é o brinquedo que se torna o mais importante, mas o ato de brincar.

A brincadeira que elabora deve ser realizada com “ o outro”, com outras crianças ou com seus familiares. Porém, atualmente as crianças entendem por brincadeira os jogos eletrônicos, fazendo com que as mesmas não se movimentem e as deixando estáticas e com isso vão ficando sedentárias e obesas. As brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, pular corda, elástico, pique alto, etc, fazem com que as crianças se movimentem a todo tempo, gastando energia e dando liberdade para criar proporcionando alegria e prazer.

Cristina Silveira é Psicanalista, Psicopedagoga e Educadora Especialista em neuropsicopedagogia, arte-terapia e psicologia do Trabalho. Tem Formação em Educação inclusiva (TDAH, Autismo, Síndrome de Down) e Atualização em artes plásticas.

 

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