A Natureza no Aprender: vem aí a Semana do Aprender 2023

14 de fevereiro de 2023

A Semana do Aprender 2023 acontece entre os dias 06 e 12 de março, com o tema A Natureza no Aprender. Qualquer um pode produzir, compartilhar e disseminar atividades e inspirações relacionados ao tema. Em breve, traremos dicas e inspirações para todos que quiserem mobilizar atividades, conhecimentos, informações e práticas que conduzam as crianças a uma ligação mais viva com a terra. Também é possível acompanhar atualizações pelo Instagram da Aliança pela Infância, link aqui. Saiba mais sobre o tema:

A Natureza no Aprender

A natureza e o espaço educam as crianças. São muitos os conhecimentos, informações e práticas que as crianças aprendem ou já aprenderam com a natureza. Por exemplo, a importância da imitação. Ao imitar outros seres vivos as crianças descobrem o mundo e os artefatos naturais que as cercam, como folhas, galhos, frutos, legumes, sementes, conchas, penas, dentre tantos outros. 

As culturas infantis também são compostas por elementos da natureza, com brincadeiras e brinquedos que envolvem água, terra, fogo e ar. Cada elemento natural sugere um tipo de brinquedo, com movimentos e olhares específicos. O diálogo entre imaginação e natureza orienta a identificação dos brinquedos e da brincadeira de cada elemento, promovendo a reelaboração do universo cultural.

Brinquedos do fogo ensinam sobre explosão corporal, adrenalina e vitalidade. Um exemplo é a brincadeira de pular corda, que usa muitas expressões como “queimou” ou “foguinho”, as brincadeiras de sombra ou de fazer cinema, com lanternas ou velas. Os brinquedos desse elemento sugerem uma certa transgressão, pois as crianças que brincam com fogo desafiam ordens e medos, além de provocarem superações. Brincar de fazer comida com fogo imaginário, também é outro exemplo.

Brinquedos da água instigam o olhar da natureza, bem como a simetria, o equilíbrio e a fluidez. Por exemplo, os barquinhos feitos com os mais variados materiais, brincar de pescaria, bolhas, banho de rio, de chuva, de mangueira, dentre tantos outros. Além disso, os brinquedos da água são os da fluidez, da leveza, os que superam obstáculos.

Brinquedos da terra ensinam sobre o universo da casa, da família, do contato com a matéria, todos sugerem um enraizamento social e imitam a vida cultural. É o exemplo de brincar de se enterrar na areia, de moldar objetos com barro, de investigar o que se tem dentro das coisas, como a anatomia de animais, de brincar de casinha, fazendinha, cozinha, montaria, carros de boi, lutas de espadas, dentre outros. As brincadeiras de casinha ou de fazer comida se remetem à nutrição, ao servir, à partilha, ao cuidado e carinho pela família.

Brinquedos do ar ampliam a visão, os sentidos, trazem a contemplação e remetem a uma ideia de leveza e deslocamento social. As pernas de pau entram nesta categoria, pois, ao usar o brinquedo, a criança enxerga o mundo sob outra ótica. São exemplos as petecas, pipas, aviãozinho e todos os brinquedos que dependem de aerodinâmica, além das brincadeiras com penas – que observam e imitam pássaros –, com asas, ou até pulos expansivos.

O artista e pesquisador da infância Gandhy associou a natureza com o campo da ética, da saúde psíquica e do símbolo – sendo este último relacionado à imaginação e ao sonho, vínculo entre a criança e a natureza. Segundo ele, “Quando a imaginação da criança encontra a natureza, ela se potencializa e se torna imaginação criadora. A natureza tem a força necessária para despertar um campo simbólico criador na criança”. E é no contato com a rua, quintais, lajes, praças e, principalmente, ao ar livre, que as crianças aprendem e fazem circular essa cultura lúdica recheada de natureza. Porém, nem todos os espaços contam com essa qualidade de acesso aos ambientes naturais. 

Gandhy ressalta a importância do contato da criança com ambientes de riqueza biológica e vida natural, mas brinquedos da natureza podem ser levados para qualquer espaço, independentemente de suas condições e do tamanho físico. Por exemplo, uma casinha feita de restos de madeira ou retalhos de tecidos pode se transformar em um canto de brincar em qualquer ocasião ou local.

Nas grandes cidades, o déficit de natureza pode interferir nas aprendizagens da criança em regiões periféricas ou mesmo nas instituições que frequentam diariamente. Muitas crianças passam boa parte de seu tempo em instituições de educação formal, como a escola, e não formal, como os centros de convivência. Nem sempre esses espaços contam com oferta de ambientes naturais, ou mesmo com propostas de atividades que promovam aprendizagens a partir da natureza. 

Nesse sentido, as escolas poderiam dar mais atenção a atividades fora da sala de aula e junto à natureza, conforme recomendado nos eixos norteadores das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009), e confirmado na BNCC (2017), estimulando interações e brincadeiras que “incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação (…) à natureza”

Alguns autores, seguindo nessa direção, sugerem o aprender na natureza por meio de práticas de Ensino Incidental, situação em que um adulto (instruído) se aproveita da demonstração de interesse espontâneo da criança por algum estímulo do ambiente (a movimentação de um inseto, um pássaro ou um animal ou a forma de uma planta ou pedra, por exemplo) para ajudá-la a desenvolver uma determinada habilidade ou colocar em prática competências já desenvolvidas.

Esses são alguns dos caminhos para refletir sobre “A natureza no brincar”, tema da semana do aprender de 2023. Brincar é impulso de vida, atividade ancestral que promoveu a cultura e organizou a nossa sociedade “humana ludens”, como diria o historiador J. Huizinga. A natureza, o lúdico e o brincar como ação e expressão infantil, são as maiores fontes e os melhores espaços de aprendizagem, então a Semana do Aprender deixa o convite para reativar memória, corpo e atitude nessa (re)ligação com a Terra.

 

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