Por Mayara Penina
Pelos quintais, sacadas, condomínios, favelas e campos do Brasil a relação das infâncias com a natureza é mais do que a relação de preservação e, sim, de simbiose. Para Maria Isabel de Barros, pesquisadora do Programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, as crianças não se percebem separadas da natureza até por volta dos 12 anos de idade e, portanto, esse é um período da vida no qual devem vivenciar o mundo natural pautadas pela alegria e pelo vínculo. “Essas experiências contribuem para que as crianças se relacionem com a natureza pela dimensão do sensível e do encantamento e as ajuda a ter capacidade de sonhar o futuro de si e do mundo”, afirma.
O programa Criança e Natureza é uma iniciativa do Instituto Alana Para isso, traça estratégias e ações que envolvem a sociedade civil, organizações e o poder público, para garantir infâncias ricas em natureza. |
O meio ambiente saudável é fundamental para o exercício de ser criança. Mas o que vemos, é que , a cada ano, 1,7 milhão de crianças menores de cinco anos morrem de poluição ambiental, tanto na água quanto no ar; no mundo e uma em cada três crianças tem altos níveis de chumbo no sangue. A OMS espera 24 milhões de crianças subnutridas como consequência das mudanças climáticas e secas até 2050. “As crianças têm menos resistência e sofrem mais com a poluição ambiental, a fome e a mudança climática. Eles também terão que lidar com as consequências da mudança climática como adultos”, explicou Maria Isabel, que é mestre em Ciências Florestais.
Para proteger as crianças das consequências das mudanças climáticas e da atual destruição de nosso planeta, a organização internacional para o apoio às crianças terre des hommes Alemanha pede que as Nações Unidas reconheçam legalmente o Direito das crianças a um ambiente saudável.
A campanha “Meu planeta, meus direitos” parte do princípio de que o planeta deve ser assegurado como um ambiente sadio para as futuras gerações, transformando as responsabilidades ambientais em um direito de todos, principalmente daqueles que permanecerão por mais tempo sobre a Terra. É possível assinar aqui a petição que será entregue ao Secretário Geral das Nações Unidas e ao Presidente do Comitê dos Direitos das Crianças na assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU) este ano.
Em entrevista a Aliança Pela Infância, Maria Isabel enumera os benefícios que as crianças tem ao estar em contato com a natureza: “A natureza tem o poder de proporcionar saúde, felicidade e potência para todas as crianças. Elas são apaixonadas pelos espaços ao ar livre, vibram ao tocar e interagir com os outros seres vivos, anseiam por pesquisar e explorar e buscam o encontro com a água e com o fogo. E aquelas que têm a chance de desenvolver vínculos de amor, respeito e pertencimento em relação ao mundo natural têm maiores possibilidades de construir um ambiente melhor para todos os seres vivos”.
As notícias sobre a crise climática que enfrentamos estão em todo lugar e podem ser fonte de muita ansiedade e medo para as crianças. A forma como nós, adultos, – pais, mães e educadores – conversamos e interagimos sobre esse tema com elas é fundamental para trazer conforto e esperança, ao mesmo tempo, engajá-las num dos maiores desafios da nossa época e dos seus futuros.
A terre des hommes Alemanha defende que a discussão sobre o meio ambiente deve ser adaptada para incluir as crianças nas decisões. Elas têm direito a respostas e soluções para se tornarem agentes de transformação de um futuro melhor, desde a infância. “Sugestões ou reclamações de crianças devem ser tratadas adequadamente pelos responsáveis”, diz a organização na campanha.
A ação “Meu Planeta Meus Direitos” tem a ambição de transformar a proteção ambiental e climática em uma pauta imprescindível e natural em jardins de infância, escolas e na educação de todas as crianças e jovens do mundo.
Quatro dicas do Criança e Natureza para conversar sobre o cuidado com o planeta com as crianças Sugerimos que as conversas sobre esse tema passem por: (1) Quebrar o silêncio e apresentar os fatos básicos ; (2) Agir pela mudança; (3) Passe tempo ao ar livre; (4) Focar na esperança e na capacidade de revolucionar das crianças. |
O Criança e Natureza acredita que se engajar em iniciativas concretas de ação traz às crianças a esperança e o impulso necessário para elas transformarem uma possível angústia ou ansiedade em ações positivas e propositivas, como aconteceu com a Greta Thunberg. “Também acreditamos que devemos ouvir as crianças com respeito e empatia por suas ideias e sugestões, e incentivar seu protagonismo, mostrando que elas podem contribuir para o enfrentamento do imenso desafio que está à nossa frente”, diz.
“Finalmente acreditamos que é nosso dever estar ao lado delas, apoiando suas lutas, e sempre lembrar que esse é um desafio coletivo e que o peso da responsabilidade não deve recair unicamente nas crianças e jovens”, completa a engenheira florestal.