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Seminário internacional debate relações humanas e importância da cultura na infância

16 de março de 2018

Durante os dias 13, 14 e 15 de março, o público pôde aprender um pouco mais sobre a infância e a relação com a cultura. Nesse período, aconteceu em São Paulo o Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na 1ª Infância. No SESC Pinheiros, especialistas brasileiros e internacionais puderam debater, ensinar e aprender sobre as relações humanas, principalmente com os pequenos, durante oficinas, mesas redondas e exposições de experiências práticas.

A iniciativa foi proposta pelo Instituto Emília e pela Comunidade Educativa CEDAC, e contou com a parceria da Fundação Itaú Social e com apoio do Instituto C&A e da Associação Cultural Espanhola (ACE).

Com inscrições esgotadas e auditório lotado nos três dias, o evento foi uma oportunidade para encontrar uma brecha na rotina e discutir sobre a criação das crianças que serão o futuro da sociedade.

Nesse sentido, muitas foram as colocações que ressaltaram a necessidade de dar bons exemplos para as crianças. Mas, para isso, é preciso, primeiramente, reestabelecer uma relação entre as famílias e seus filhos. Segundo a especialista em educação precoce e leitura na primeira infância, Maria Emilia López, vivemos um momento difícil de desmantelamento da linguagem humana. A psicóloga clínica e psicanalista, Patrícia Pereira Leite, completou, ao afirmar que é preciso alimentar as redes de transmissão do gesto humano.

Juntamente com a professora e especialista em promoção da leitura e literatura infantil, Beatriz Sanjuan e a educadora, escritora e consultora nas áreas de educação, artes e literatura, Stela Barbieri, elas compuseram a mesa “A voz, a palavra e o brincar na primeira infância”.

Durante o debate, as especialistas levantaram temáticas como a perda da conexão entre os adultos e as crianças. Beatriz, entretanto, cantou para o público para explicar que o encantamento é um dos caminhos a serem seguidos para que possa haver o reestabelecimento de elos. “Hoje em dia, os filhos vivem isolados da família. Os pais vão trabalhar e as crianças ficam em outros espaços, geralmente com outros adultos. No final do dia, os pais estão preocupados em suprir essa falta que fizeram, mas simplesmente não sabem como. Como cantar depois de passar horas no trânsito para chegar até seu filho? Não é sobre isso que deve falar. Você deve mostrar para a criança que está presente, e isso só pode ser feito de uma forma: cantando, usando sua voz própria”, defendeu a professora.

A parceria entre escola e os responsáveis, assim como uma escuta ativa a todos os envolvidos com a criança, também foram soluções elencadas. Segundo as especialistas, tudo isso deve apontar para uma corresponsabilização do trabalho educacional dos alunos. Maria Emilia destacou o papel da arte ao afirmar que aqueles que recebem cuidados afetivos culturais artísticos desde cedo terão uma boa relação com o mundo subjetivo e com as demais pessoas.

Nesse mesmo dia, o público também participou da conversa sobre a importância de ler os clássicos e como esses enredos, mesmo que não lidos por algumas pessoas, estão presentes no imaginário coletivo. Com muitos nomes do universo Disney e outras histórias como Chapeuzinho vermelho, O Pequeno Príncipe e Sítio do Picapau Amarelo, a discussão ressaltou que é necessário discutir com as crianças temas difíceis e muitas vezes desafiadores, como a morte.

A escritora Sara Bertrand defendeu que temas em baixa devem ser colocados como prioridade em obras infantis. “A conversa humana e política no futuro vão depender de nossas crianças. Suprimir o desejo, sexo, luto e morte é muito prejudicial”. A professora e terapeuta Eva Martínez concordou, ao afirmar que uma literatura que ensina as crianças a não sentirem raiva não é boa, já que isso não é real e vai contra os instintos humanos.

Obviamente, todos esses tópicos devem ser tratados com a devida sensibilidade e delicadeza, como apontou a ilustradora e escritora Paloma Valdivia, na mesa “Arte, poesia e mundo digital na primeira infância”, realizada no terceiro dia do evento. Segundo a autora, ela usa experiências pontuais de sua vida para escrever e inspirar seus livros, que falam sobre as relações humanas. “Quando eu era pequena, ninguém me explicou carinhosamente sobre a morte. Minha família falava que meu gato se ‘apaixonou’ e foi embora. São temas difíceis, mas deve-se falar sobre o ciclo da vida.”

Esse assunto faz a ligação com outro ponto levantado pelo doutor em Didática da Literatura, Lucas Ramada, nessa mesma mesa: a necessidade de mediação. Lucas ressaltou que os mediadores, sejam mães, pais ou professores, precisam separar bons conteúdos, em um processo de entender como a literatura acontece no mundo digital que, assim como o mundo dos livros físicos, também conta com pontos bons e ruins.

Mesmo que dita em um contexto digital, que era o tema da discussão, a fala aplica-se também a qualquer material a ser fornecido para os pequenos. É preciso avaliar o que realmente está provocando mudanças e auxiliando o desenvolvimento das crianças.

O Seminário também foi palco de outras discussões, como a mediação e leitura compartilhada e o processo criativo do brincar. A última mesa do evento, sob o título “Quem cuida dos futuros leitores?”, reuniu especialistas para debater as políticas públicas envolvendo leitura. O último dia do Seminário também foi marcado por lembranças e homenagens à vereadora do PSOL, Marielle Franco.

*A imagem deste post pertence à Nextart.

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