A Aliança pela Infância traz a Semana do Comer 2024 no ritmo do ABCD Encantado da Infância e aprofunda a temática anual Vem pra Roda em mais um eixo: O Comer. A Semana acontecerá de 12 a 18 de agosto e, como sempre, todos estão convidados a participar, realizando atividades em casa, nas escolas, praças, parques ou mesmo compartilhando nas redes sociais.
Ao longo deste ano, convidamos vocês a se juntarem conosco nessa roda, reconhecendo a importância de estarmos unidos na promoção de ambientes justos, equitativos, acolhedores e acessíveis para o desenvolvimento das nossas crianças, em que elas possam expressar sua linguagem e potência livremente. Esta roda à qual todas e todos são convidados representa a união, o afeto e o amor, uma ciranda que organiza e dá o ritmo tão essencial para uma infância plena, digna e cheia de encantamento.
O ato de comer carrega aspectos de afeto, vínculo e união. Uma mesa de refeições é um espaço de convivência para compartilhar o cotidiano e celebrar conquistas. Pessoas reunidas, conversando, saboreando e compartilhando alimentos que passaram por várias etapas de cuidado até chegar ao prato. Conversas sobre o dia, planos para o amanhã, opiniões sobre temperos e votos de parabéns em aniversários ou momentos importantes fortalecem os laços de afeto e confiança com a criança, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais.
Somos seres cuja sociabilidade gira em torno do ato de comer. Convidamos pessoas para compartilhar refeições como almoços, churrascos, lanches e cafés da tarde. Comer é um motivo de união, de encontros e reencontros, onde a comida sempre faz parte do momento.
Tudo começa na amamentação, que desempenha um papel fundamental não apenas na nutrição do bebê, mas também na criação de vínculos emocionais profundos entre mãe e filho. Esse momento íntimo é carregado de significados emocionais e psicológicos que fortalecem uma relação afetiva para toda vida. A proximidade física e o contato pele a pele satisfazem as necessidades nutricionais do bebê e proporcionam um ambiente seguro e reconfortante, onde a criança se sente amada e cuidada. Esse ato de amamentar, promotor do desenvolvimento infantil saudável, vai além da nutrição orgânica, uma vez que nutre a alma de segurança e afeto .
Nas refeições compartilhadas, a criança nutre também seu próprio processo de construção de identidade e personalidade. Seja ao participar das conversas e das trocas que se estabelecem à mesa ou ao observar os gestos e as atitudes, ou mesmo na sua relação com o alimento, mediada por quem prepara e compartilha a mesa com ela. O comer faz parte da linguagem lúdica, por meio da qual a criança investiga o mundo ao seu redor, descobre as diversidades de sabores e vive experiências sensoriais. As memórias afetivas e gustativas são marcantes e se somam às camadas de descoberta e autoconhecimento da infância.
Paciência, tempo, respeito e comunhão são dimensões do afeto. O paladar é uma propriedade individual construída nas relações sociais mediada pela cultura que se desenvolve durante as refeições em família, na escola e outros contextos coletivos. É essencial incentivar uma alimentação diversificada e a exploração sensorial de diferentes sabores e texturas, respeitando sempre a relação da criança com a comida e seu corpo, à medida que ela descobre seus gostos.
A boa alimentação também é urgente. Estimular o hábito de alimentos saudáveis, sobretudo em tempos de embalados, processados e ultraprocessados, é fundamental para que as crianças possam atingir todo seu potencial de desenvolvimento. Este também é um ato de cuidado e afeto que impacta profundamente a saúde e o bem-estar das crianças. Em um mundo cada vez mais acelerado, envolvê-los na escolha e preparação dos alimentos traz mais consciência dos recursos finitos e do valor da terra e dos afetos.
Podemos também abordar essa temática à luz do problema de insegurança alimentar enfrentado no Brasil atual, onde a fome continua a afetar especialmente nossas crianças. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, divulgada em 2024, mais de um terço (37,4%) das crianças de até 4 anos viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar em 2023. Para os menores de 5 a 17 anos, 36,6% viviam em casas com insegurança alimentar. Como podemos falar em compartilhar momentos de afeto quando falta comida? As relações enfraquecem sem nutrição para o corpo e para a alma.
Comer bem, em boa companhia e com afeto, transforma a alimentação de um ato puramente biológico para uma experiência social, cultural, afetiva e de integração. A refeição compartilhada, repleta de alimentos cultivados, produzidos, distribuídos e preparados com carinho, estreita laços no presente e inspira esperança para o futuro. Esse ato de comer assegura às crianças a oportunidade de viver uma infância plena, digna, e continuar sonhando juntas.