‘Semana Mundial do Brincar em Casa’ aproxima famílias e resgata brincadeiras tradicionais na Bahia

27 de julho de 2020

Com a quarentena, famílias precisaram se adaptar a uma realidade completamente nova e desconhecida até então. Enquanto alguns pais, mães e responsáveis começaram a trabalhar em casa, outros continuaram a exercer suas profissões de forma presencial, e tantos outros ficaram desempregados. 

O estresse e preocupação ocasionados pela incerteza do futuro são transmitidos às crianças, que sentem o clima do lar. Além disso, a esse cenário, somam-se os cuidados com a casa, como limpeza e comida, e com os filhos, muitas vezes em idades diferentes e demandando apoio com aprendizagem em aulas remotas. 

Um dos objetivos, portanto, dessa edição diferente da Semana Mundial do Brincar (SMB), a primeira realizada prioritariamente de forma online em razão do distanciamento social, foi reforçar a importância de adultos proporcionarem espaços na rotina do dia a dia para que as crianças possam se expressar e brincar livremente. 

Mais do que incentivar a participação online e o engajamento em lives, encontros, atividades e rodas de conversa virtuais, a intenção da Aliança pela Infância foi promover o brincar no espaço doméstico e provar que, mesmo em meio a uma pandemia global, as crianças continuam encontrando diferentes formas, lugares, brinquedos e jeitos de expressar sua imaginação e visão de mundo. 

Muitas transmissões e ações realizadas durante a SMB fizeram esse papel de chamamento e, felizmente, inúmeras famílias toparam o convite e brincaram com seus filhos. É o que conta Jonimar dos Anjos Cellis, membro do núcleo da Aliança pela Infância de Mucugê, município na Chapada Diamantina, na Bahia. 

Diretor da Escola Augusto Landulfo Medrado, Jonimar conta que, em razão da pandemia, não foi possível realizar uma ação presencial para celebrar o dia do brincar e, por isso, ele se reuniu com sua equipe pedagógica e criou o projeto Brincando em Casa. A ação teve o objetivo de incentivar brincadeiras em família e entender o significado do brincar. “O brincar é uma importante ferramenta de comunicação e é por meio dele que crianças e adolescentes podem reproduzir seu cotidiano, além de ajudar a construção da reflexão e criatividade”, explica. 

O primeiro passo da ação, que envolveu desde a educação infantil até o ensino fundamental 2, começou com a entrega de uma carta, de casa em casa, para alertar os familiares sobre o projeto e os motivos pelos quais a escola estava organizando a proposta. “Falamos que não poderíamos deixar a semana do brincar passar em branco e, como não poderíamos fazer presencialmente, contávamos com o apoio das famílias. Dissemos que as brincadeiras seriam um momento de prazer e de encontro. Aqui em Mucugê, muitos pais saem para trabalhar às 4 horas da manhã e só voltam à noite, reduzindo o contato com os filhos”, comenta Jonimar. 

A recepção do projeto não poderia ter sido melhor. Muitas famílias entraram em contato com o diretor agradecendo e reforçando a importância do projeto, e garantindo que participariam da ação. 

Como o resgate das memórias aproximou as famílias 

Um dos pontos de destaque da ação, segundo Jonimar, foi o fato de as brincadeiras terem aproximado as famílias. “Houve uma verdadeira troca de conhecimento entre gerações. Alguns pais disseram que relembraram brincadeiras, há muito esquecidas, ensinadas a eles pelos avós e, quando apresentaram esses jogos para os filhos, eles inovaram e criaram outras regras. Ficamos muito felizes de ver essa troca”, afirma. 

Para o diretor, essa interação se faz ainda mais necessária nesse momento, onde adultos estão cada vez mais presos em rotinas cansativas de trabalho e jovens querem dedicar praticamente todo o tempo livre às tecnologias virtuais e jogos.

Como forma de dar uma devolutiva à escola, muitas famílias enviaram fotos, áudios e vídeos relatando suas práticas. Jonimar conta que houve quem colocou a ‘mão na massa’, literalmente, e fez panelinhas e vasos de barro, pais e filhos que construíram carrinhos com madeira e pneus, e usaram até mesmo elásticos, cordas e cipó direto do mato para construir vários brinquedos. “As crianças puderam voltar ao passado, conhecer um pouco da cultura que foi se perdendo ao longo do tempo e rever algumas brincadeiras de antigamente, as formas de brincar, e as regras daquela época.” 

Durante o projeto, a escola decidiu dedicar a semana do brincar inteira às atividades em família. Jonimar conta que os professores mantêm um controle de quem participa das propostas por grupos de WhatsApp e que o projeto conseguiu alcançar 100% dos alunos. “Nós mandamos as atividades para as famílias no WhatsApp porque nem todas têm acesso à plataforma onde fazemos as atividades online. Conforme cada estudante ia fazendo as ações, eles enviavam um ‘joinha’ para sabermos que participaram. Com isso, conseguimos completar a tabela inteira durante a SMB.” 

Parceria entre família e escola 

Para Jonimar, poder realizar esse projeto, mesmo que de forma simples, foi uma oportunidade para reforçar a importância do compromisso conjunto com a educação, que não deve partir somente da escola, mas envolver toda a comunidade. 

“Nós temos alguns estudantes com deficiência na escola. Um deles, uma menina muito tímida que só conversa comigo e com dois professores, me enviou vídeos dela moldando panelinhas de barro. Fui até a casa dela e parabenizei pelo trabalho. Esse tipo de empenho e participação é muito maravilhoso para nós. Eu acredito que a educação só é feita em conjunto. Nós fazemos a nossa parte e, quando outras pessoas interagem, temos um resultado. E posso dizer que estamos muito felizes com o resultado aqui em Mucugê.”

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