O brincar livre nas escolas públicas brasileiras durante a SMB 2019

15 de julho de 2019

Com o fim de mais uma Semana Mundial do Brincar (SMB), chega a hora de contabilizar ações, compartilhar bons resultados e se inspirar para o próximo ano. A edição de 2019 foi especial, pois marcou os dez anos da mobilização. Com o tema “O brincar que abraça a diferença”, crianças de norte a sul, leste e oeste do Brasil e até mesmo da América Latina ocuparam escolas, quadras, parques, praças e ruas com a missão mais fundamental da infância: brincar livremente.

Letícia Zero, coordenadora da secretaria executiva da Aliança pela Infância no Brasil, explica que é importante falar sobre o convívio das diferenças na brincadeira porque é nos momentos lúdicos que crianças interagem com os outros e com o mundo a sua volta. É brincando que exercitam sua imaginação, exploram sua curiosidade e o meio onde estão e fazem descobertas. Por isso, falar sobre diferença é introduzir discussões sobre tolerância, cultura de paz, saber mediar, perdoar, conversar e dialogar, tudo isso por meio de jogos e atividades.

O tema foi recebido com alegria e gerou muitas mobilizações em prol do brincar livre. Somente no formulário disponibilizado no site, a Aliança pela Infância recebeu mais de 300 inscrições de 114 cidades das cinco regiões brasileiras, desde o litoral de São Paulo, passando por Cascavel, Curitiba e Igrejinha na região Sul; Extremoz, Ilhéus e Maragogi no Nordeste também municípios do Norte e Centro-Oeste.

A mobilização não se limitou ao território nacional. Pelo segundo ano consecutivo, a SMB também foi realizada em alguns países vizinhos. Esse ano, o brincar livre foi celebrado no México, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina e Chile, com ações diversas entre brincadeiras e atividades teóricas voltadas àqueles que trabalham com crianças.

A SMB nas escolas públicas brasileiras

Todos os anos, depois da SMB, a Aliança pela Infância disponibiliza um formulário para que pessoas que organizaram ou participaram de atividades possam relatar como e quais ações aconteceram em sua cidade, além de questionar sobre a importância do brincar para o desenvolvimento da criança.

Muitos dos relatos, sobretudo aqueles que se referiam a atividades realizadas na Educação Infantil, destacaram a brincadeira como um direito que não deve ser negado, sendo o brincar o principal meio para a criança se descobrir e descobrir o mundo.

Nádia Lima, professora da escola Eufrazina Martins dos Santos, de Horizonte, no Ceará, comentou que o mais importante é que as ações não se esgotem ao fim da SMB, e sim perdurem durante todo o ano, uma vez que interação e a brincadeira são eixos da Educação Infantil. “Realizamos ações de resgate de brincadeiras populares e construção de brinquedos com materiais recicláveis. Com isso fortalecemos a parceria com a família e a comunidade. Um dos momentos marcantes foi a vinda à escola dos idosos em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da comunidade. Na ocasião, falaram sobre as brincadeiras e brinquedos de sua infância e ao final brincaram com as crianças.”

Veronica Gouveia, gestora da Escola Municipal Nelson Vieira de Jesus, localizada em Entre Rios, na Bahia, comentou que as atividades ajudaram a perceber que é por meio da ludicidade, brincadeiras e jogos que as crianças se relacionam com o ambiente físico e social onde vivem, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e habilidades nos aspectos físico e social.

Adulto brinca? 

No meio de toda essa mobilização em prol do brincar livre, fica a pergunta: por que, em determinado momento da vida, paramos de brincar? Em algum dia, brincamos pela última vez, mas não sabíamos disso. Débora Ferreira, coordenadora pedagógica da Creche Municipal Maria Pires Parra, de Itaquaquecetuba, em São Paulo, reforça o quanto é surpreendente a necessidade de ter que estimular e ensinar o adulto a valorizar o brincar. “Os adultos têm dificuldade em brincar, se envergonham em liberar a atitude natural de criança. Mas no fundo sabem o quanto o ato é bom e faz bem, tanto corporal, quanto emocionalmente.” 

O Centro de Educação Infantil Valdemir de Souza, de Itajaí, em Santa Catarina, usou os quatro elementos para fazer brincadeiras com as crianças. No dia de falar sobre ar, as famílias e a comunidade foram convidadas a ir até a escola para soltar pipas e fazer cataventos e aviões de dobradura com as crianças. 

Construir para brincar 

Muitos dos relatos também trouxeram a questão da construção do brinquedo pelas próprias crianças ao invés de receberem brinquedos prontos. Dessa forma, são estimuladas a participar e prestar atenção nas instruções. 

Foi o caso da Escola Estadual Silvio Ferreira, de Coxim, no Mato Grosso do Sul. Além de construírem o balangandã (diversas peças penduradas em um tipo de argola decorada, confira um vídeo aqui), os estudantes puderam brincar com pião, bolas de gude, pipas e bolhas de sabão, além de brincadeiras de rodas e cantigas, como Passa Passa Gavião, Escravos de Jó, Ciranda Cirandinha, Sambalelê, entre outras. “O brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança, ajuda a desenvolver diversas habilidades, contribui para interação e conhecimento e para que o processo de ensino-aprendizagem seja mais significativo”, explica a professora Maria Silvania Sanches. 

O brincar como objeto de estudo  

O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), localizado em Palhoça (SC), também participou da mobilização com o projeto IFSC Brincando, que tem como objetivo ofertar à comunidade diferentes atividades relacionadas ao brincar livre. 

Brincadeiras tradicionais como pé de lata, pula corda, corrida de saco e amarelinha, oficinas com tintas artesanais e massinha, atividades não estruturadas de coordenação e livre movimento para bebês, teatro e contação de histórias em Libras foram algumas atividades realizadas durante a SMB. Mas, para além da semana, o projeto visa mostrar que brincadeiras livres são de fundamental importância para crianças de todas as idades e também para adultos, sobretudo em uma época em que o excessivo contato com as tecnologias, a mudança no perfil das moradias e a falta de tempo de qualidade entre adultos e crianças mudam a forma com que famílias ocupam seu tempo. 

“O projeto teve participação ativa dos estudantes desde o planejamento, a pesquisa e a produção de materiais e a execução, avaliação e replanejamento. Assim, tem contribuído de modo direto para a relação entre teoria e prática, ensino, pesquisa e extensão. Acreditamos que atividades como essa desafiam os alunos a repensar sua relação com o brincar e a infância, incentivando-os a planejar e pesquisar diferentes atividades de brincar livre, que deem espaço para a expressão e criatividade de bebês, crianças e até adolescentes. O projeto oportuniza que os graduandos usufruam de momentos de interação e brincadeiras visto que, ao longo do tempo, os adultos se afastam do brincar, algo fundamental para os professores e profissionais que atuam com crianças”, explica a professora Eliana Bär. 

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