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Valadares, a cidade mineira que se transformou ao investir na Educação Infantil

16 de julho de 2016

Por Cecília Garcia, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz

Ainda que usem o mesmo uniforme, dividam merenda e sala de aula, cada aluno é diferente entre si. Características como gostos pessoais ou tempos de aprendizado impactam diretamente na maneira como a criança enxerga e aproveita a escola. Não é possível ter uma escola para cada aluno, mas quanto mais plural for a rede que o acolhe, quanto maior a oferta de competências que ela oferece, também cresce a possibilidade de o aluno se sentir contemplado e identificado com a escola onde estuda.

Identificação é o que torna a escola atrativa, evita a evasão e as consequências sociais de crianças e adolescentes privados de ensino. Em 2010, Governador Valadares figurava como uma das dez cidades brasileiras com maior índice de adolescentes expostos à violência. A história de sua formação explicava essa fragilidade: além de ciclos econômicos distintos como mineração e agropecuária, a cidade sofreu com a debandada de jovens para o exterior. Para criar a tão necessária identidade, o poder público percebeu que a atuação deveria ser na área educacional.

Deu-se início então ao projeto de inovação da rede escolar de Governador Valadares. Experiência pioneira no Brasil, a cidade implantou a educação integral em todas as 92 unidades de ensino do município, tanto as urbanas quanto as do campo. Ela também ampliou sua infraestrutura: em 2015 foram abertas 12 novas escolas, sendo 10 de educação infantil, creche e pré-escola.

“Isso nos permitiu antecipar em dez anos a meta do Plano Nacional de Educação no atendimento a 50% das crianças de 1 a 3 anos, e também garantir o pleno atendimento a crianças de 4 e 5 anos”, conta Karla Nascimento, secretária de Educação adjunta do município. Na educação no século XXI, uma escola atraente para o aluno vai além das competências regulares, como matemática e língua portuguesa.

A criança que gosta de música deve ter um lugar para se expressar e aprender, assim como a que é aficionada por esportes ou tem interesse em aprender outras línguas. Em todas as escolas da rede municipal, os estudantes têm 10 horas de atividade semanal dedicadas a outros saberes, como a arte circense e judô.

Além dessas atividades, algumas escolas municipais foram selecionadas para se tornar referências nas áreas de Esportes, Música, Idiomas e Tecnologias: são as Escolas Vocacionadas. Enquanto na Escola Municipal Octávio Soares os estudantes podem desenvolver habilidades em natação e atletismo, na Escola Municipal Santos Dumont são oferecidas aulas para aprender a tocar instrumentos e até mesmo construí-los.

“As Escolas Vocacionadas oportunizam disciplinas que até bem pouco tempo eram oferecidas só às crianças e adolescentes cujas famílias tinham meios de pagar por elas, como idiomas ou esportes”, acrescenta Jaider Batista, Secretário de Educação. “Nós também reconhecemos a centralidade das tecnologias na sociedade da informação e o interesse que a linguagem digital desperta nos adolescentes e jovens”, completa Karla ao falar sobre a Escola Municipal Professora Rosalva Simões Ramalho, restruturada para ser referência em tecnologia.

A escola possui computadores portáteis para serem utilizados em aulas de robótica e programação, além de laboratórios e pistas de aeromodelismo. Para potencializar um território que já transpira inovação, a Fundação Telefônica Vivo e a Secretaria de Educação firmaram uma parceria para trazer o programa Escolas Conectadas ao município. A iniciativa oferece aos educadores uma gama de cursos para que eles possam continuar sua formação virtualmente.

Nos dias 23 e 24 de junho, os professores da rede municipal participaram de uma oficina de stop motion e HQ. “Eles colocaram literalmente a mão na massa e produziram animações”, relembra a secretária. O Programaê!, plataforma de incentivo ao ensino de programação para crianças e adolescentes, também encontrou ressonância com a escola vocacionada de tecnologia. Em um primeiro momento, a proposta é que os alunos aprendam a linguagem da programação por meio da plataforma. No segundo semestre de 2016, a Secretaria planeja dar continuidade a formação de seus professores entendendo os resultados obtidos com a utilização do programa.

Seis anos após a adoção de uma politica combativa de violência que usa a educação, e não a segurança pública, Governador Valadares não figura nem entre as 60 cidades brasileiras com maior vulnerabilidade a violência juvenil. A cidade é uma amostra inspiradora de como investir não somente na educação, mas também na inovação, pode criar escolas mais amigáveis, impactando crianças e adolescentes e por consequência, toda a dinâmica de uma comunidade.

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