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Para ter criatividade, resiliência e coragem é preciso Brincar, por Giovana Barbosa de Souza

17 de abril de 2016

Publicado em 6 de maio de 2015

Por Giovana Barbosa de Souza, coordenadora geral da Aliança Pela Infância

O que é criatividade? É o exercício do ato da criação, da experimentação de provar as coisas que dão certo e as que não dão, de experimentar nossos limites, nossos desafios e nossos medos. Essa ação começa com o exercício da vida por meio do Brincar.

No ato da descoberta entramos em contato com todas as possibilidades, descobrirmos por meio do concreto, dos fatos que os objetivos se encaixam, que outros rolam, que existem superfícies que são mais macias e outras são rugosas.

No caminho da descoberta da vida experimentamos cheiros e sabores. E todas essas referências vão nos fornecendo informações que vão dando a bagagem de vida para construirmos nosso repertório. Com o tempo nos desconectando do prazer que estas tentativas maravilhosas de descobertas proporcionaram. Talvez porque à medida que experimentamos, muitas vezes estamos também em contato maior com alguns riscos, risco de cair, de ter acesso a sensações que não são só prazerosas.

Assim, todos nós nos tornamos seres humanos por meio das nossas tentativas e descobertas, descobrimos o Brincar, atividade que nos acompanha desde que nascemos, pois é por meio do brincar que descobrimos as relações na vida. Que elaboramos quem somos. As brincadeiras e o exercício do brincar – que explora e que descobre novas possibilidades – são momentos vivos de criatividade.

Todos nós nascemos criativos, todos nós criamos muitas coisas em nossas vidas, é na infância por meio do contato com objetivos mais próximos que vamos explorando a vida, ao nome dessa sucessão de tentativas é chamado processo criativo. São momentos deliciosos e que muitas vezes vem acompanhado de humor.

Possibilita a todos a amabilidade, a abertura para o novo e para a socialização. Quando as crianças começam a crescer vivenciando momentos como estes, logo querem compartilhar suas descobertas, são momentos mágicos.

Com a chegada do século XXI tão cheio de excessos: o de cuidado com as crianças e a contrapartida: o excesso de falta de cuidado em tantos aspectos, resultam em crianças perdidas e com cada vez menos oportunidade e chance de exercitarem a criatividade. Um exemplo são os raros momentos em que as crianças têm a chance de brincarem sozinhas, elas acessam uma série de possibilidades incríveis, mas com o excesso de preocupações que quase todos temos, cada vez menos as crianças podem brincar sozinhas.

Um fato muito comum é quando uma criança ganha um determinado brinquedo e o adulto que está mais próximo, às vezes o pai ou a mãe ou até mesmo a avó, não se contém diante do tempo da criança explorando o objeto e simplesmente começa a ensinar a criança, dizendo olha “funciona assim e não assim”, “olha faça assim”.
Uma grande possiblidade para fomentar esse processo é proporcionar ambientes com materiais não estruturados, ou seja, ambientes onde as crianças possam construir seus brinquedos a partir de elementos simples, como folhas de árvores, pedrinhas, pedaços de madeira ou caixas de papelão.

Pequenos cortes no processo criativo – que quase sempre não são perceptíveis aos adultos, mas que acontecem com frequência -, contribuem para que as crianças, aos poucos, deixem de acessar as possibilidades de tudo que está à sua volta, aos poucos elas perdem a coragem de serem naturalmente criativas.

Outro fato muito complicado é que, também aos poucos, profissionais que atuam diretamente com crianças estão constatando que elas, por medo de serem repreendidas, estão cada vez mais com medo de experimentar as possibilidades físicas, como por exemplo correr em ambientes abertos. Muitas crianças ouvem tanto que não é bom correr pois podem se machucar que quando elas têm acesso ao espaço onde podem experimentar suas capacidades e seus limites físicos elas não fazem por medo.

E o que é a coragem? É a ação que vem do coração. A coragem é irmã da confiança. Quem de nós nunca cometeu um ato de coragem? Pare por uns segundos e procure na sua memória quando foi seu último ato de coragem? Tenho certeza que logo que você se lembrar, virá imediatamente uma sensação maravilhosa de superação.

Todos nós já vivemos inúmeros momentos de coragem, mas a nossa vida conduzida por um ritmo alucinante nos impede de termos mais conexões com nossas próprias memórias como estas. Elas são fundamentais, pois a vida é repleta de desafios, sem coragem e sem confiança somos adultos reféns da depressão, da insegurança e do medo.

A possibilidade de começar uma brincadeira onde a criança tropeça, cai e levanta e começa de novo é uma pequena imagem da criança que tem força para recomeçar e tentar novamente até saber o que funciona e que não funciona.

Trata-se de uma imagem que ilustra o que todas as crianças precisam, elas precisam ter criatividade para explorar a vida e confiança de que vale a pena tentar sempre, pois a vida é bela e verdadeira. Essa capacidade é chamada de resiliência, que significa o talento de levantar apesar do tombo dolorido. De aprender que não é tudo que podemos e que devemos fazer, mas que ainda assim, cada um de nós tem a chance de viver novas possibilidades com alegria sabendo que vale a pena seguir em frente.

Com o compromisso com estes três conceitos, a Semana Mundial do Brincar, que acontece na última semana de maio, traz este ano um convite para que possamos visitar a infância de cada de nós e reconfigurar nosso compromisso humano com as crianças que estão chegando, para que vida continue a seguir um fluxo de sermos humanos mais respeitosos, mais amorosos e mais confiantes.

 

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