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Nota de pesar: Miguel Otávio Santana da Silva

11 de junho de 2020

Além de inúmeras notificações diárias sobre novos casos e centenas de mortes provocadas pela Covid-19, o Brasil recebeu com indignação, no início de junho, a notícia da morte de Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, ao cair do nono andar do prédio onde sua mãe trabalhava, em Recife. A criança foi deixada sozinha pela empregadora de Mirtes Renata para circular pelos elevadores do edifício. 

A história que vitimou Miguel é mais uma que choca o país, como as do garoto João Pedro, no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro, morto dentro de casa em uma operação da Polícia Civil; e de Aghata, de oito anos, assassinada em uma batida da Polícia Militar no Complexo do Alemão. 

Desde o ocorrido, algumas manifestações exigiram mais providências contra Sarí Mariana Côrte Real, que chegou a ser presa, mas foi liberada após pagamento de fiança. Artistas e políticos endossaram a hashtag #JustiçaPorMiguel em redes sociais e diversas organizações se pronunciaram sobre o caso. 

A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), da qual a Aliança pela Infância é membro, publicou uma nota que cita o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e afirma a importância de crianças serem prioridade absoluta sempre, independente de sua identidade. O fato de que a mãe de Miguel teve que permanecer trabalhando, mesmo durante a pandemia e vigência de medidas como distanciamento social, e, por isso, não tinha com quem deixar seu filho, também foram pontos abordados pela nota, que convoca a população à luta e enfrentamento do racismo e violência contra crianças. 

Confira abaixo a nota na íntegra. 

 

“POR JUSTIÇA E HONRA AO MENINO MIGUEL

Criança, prioridade absoluta!

 

A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) vem a público manifestar seu

profundo pesar e indignação pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco

anos, morto ao cair do 9º andar de um prédio em Recife no último dia 2 de junho.

Miguel estava aos cuidados da empregadora de sua mãe e foi deixado sozinho pela

empregadora em um elevador.

 

A RNPI solidariza-se com a dor da família de Miguel pela sua irreparável perda e

convoca os profissionais do Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do

Adolescente para que os fatos sejam rigorosamente apurados e a Justiça seja feita

para a devida responsabilização de tamanha negligência.

 

É importante destacar que este trágico episódio revela as diversas faces das

desigualdades, discriminações e das violações dos direitos humanos de crianças e

adolescentes no Brasil e, de modo especial, nas populações negras e pobres, em

detrimento do racismo e desumanidade exacerbada do sistema capitalista, que as

invisibilizam enquanto sujeitos de direitos.

 

Era dever moral e legal da empregadora zelar e proteger a criança, que estava

sob seus cuidados. O Estatuto da Criança e do Adolescente determina no seu artigo 5º:

“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei

qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. Assim como

o artigo 4º define que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes

à vida.

 

Este fato em si é representativo por escancarar o recorte racista e classista que

existe em nossa sociedade e denunciar as mais amplas e perversas reproduções de

práticas reacionárias e criminosas de épocas passadas. Denuncia ainda a falta de apoio

do Estado que não alcança mulheres e mães que são obrigadas a trabalhar durante

uma pandemia para levar o sustento às suas famílias e não têm com quem deixar seus

filhos.

 

A morte de Miguel é uma demonstração de quão pouco vale a vida de uma

criança negra e pobre no Brasil. Vivemos o racismo estrutural que faz da população

negra a principal vítima de homicídio no Brasil (com aumento de casos em todas as

faixas etárias, segundo o IBGE), a mais afetada pelo desemprego e pela baixa

escolaridade. 

 

O que aconteceu com Miguel não foi uma fatalidade e deve nos indignar.

Causa-nos sofrimento, mas nos desafia a permanecer firmes na luta e no

enfrentamento ao racismo e à violência contra crianças. A RNPI reafirma seu

compromisso na promoção, garantia e defesa dos direitos da primeira infância e

repudia fortemente a naturalização de mortes de crianças.

 

#vidasnegrasimportam

#justicaparamiguel

#justicapormiguel

#nenhumamortemais

#bastadeviolencia”

 

*Imagem: Foto: Veetmano/AgenciaJCMazella / Ponte

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