Que gosto tem uma refeição cuja lembrança dura a vida inteira? Que ingredientes utilizar? Quem saberia fazer algo assim?
Por Marcelo Nonato.
Para nós, adultos, que temos acesso a informações sofisticadas de programas de competição culinária na TV, pode parecer difícil responder a essas questões. Porém, para as crianças pequenas, talvez tudo se resolva de um modo mais simples. “Qual é a melhor comida do mundo?”, perguntaremos. E, talvez, elas nos respondam: “É aquela que a minha avó faz para mim!”. Ou minha mãe, meu tio, minha irmã… Enfim, não importa quem faz “a melhor comida do mundo”. O que importa é essa mistura misteriosa de afeto e sabor, como um abraço terno que se dá por dentro, e não por fora, e que pode permanecer por muitos anos – quem sabe, a vida inteira – como uma memória feliz no coração da pessoa.
Pois bem, esse é o ponto de partida de um livro infantil chamado “Sopa”, da escritora argentina Raquel Cané, publicado pela editora VR em 2015. O texto é poético e fala das lembranças de uma menina sobre uma sopa deliciosa que sua avó lhe preparava.
“A doce sopa desceu pela minha garganta enquanto a videira estava cheia de pássaros e o quintal era uma festa! Quente e suave era a sopa que me agasalhava como as mantas de mil cores que minha avó tricotava nas noites de inverno…” Diz um trecho do livro.
A obra é bastante inspiradora para nós, que somos educadores, pois inspira reflexões sobre a importância de estimular a criança a formar um rico patrimônio interior de afetos e memórias felizes. E que isso pode ser feito também por meio de uma ação educativa do adulto, nos vários aspectos que dizem respeito à alimentação da criança.
O desafio do movimento que participamos, a Aliança pela Infância, é oferecer experiências que mobilizem a amorosa atenção dos adultos sobre a riqueza de oportunidades educativas dos atos cotidianos da vida das crianças. Dentre eles, os momentos de aprender, brincar, comer e dormir, que chamamos de o “ABCD encantado da infância”.
Defendemos que essa fase da vida é o tempo propício para se aprender sobre as coisas essenciais da vida; sobre o mundo dos céus e da terra; sobre o que é bom, belo e verdadeiro. Defendemos também que a infância é o tempo de amar e ser amado, e que tais alicerces promovem o desenvolvimento de seres humanos capazes de construir uma sociedade fundada na cultura de paz, na sustentabilidade ambiental e no respeito a todas as diferenças.
Por esse motivo, estamos promovendo, de 10 a 16 de agosto de 2020, a Semana do Comer. A ideia é refletirmos juntos sobre os vínculos que estamos criando entre a criança e a comida. Um alimento é mais que os nutrientes que o compõem. O ato de alimentar uma criança se estende também pelo território dos afetos e dos sentimentos, igualmente essenciais ao seu crescimento.
No livro que citamos, a autora aborda de forma sensível vários aspectos da relação entre comida e afeto, que vão além da simples nutrição: o carinho do adulto no preparo da alimentação para a criança; a ternura no ato de comunhão de uma refeição em família; a confiança mútua que se estabelece quando a avó compartilha com a neta o seu segredo, a receita da sopa; e o impacto de todos esses aprendizados significativos na vida da menina.
Que tal fazermos o mesmo com as crianças que estão sob nossa responsabilidade e a quem temos o dever de educar?
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Marcelo Nonato é arquiteto, consultor na área de responsabilidade social e integrante do Conselho Deliberativo da Aliança pela Infância.
Raquel Cané nasceu em Santa Fé (Argentina) e, atualmente, vive em Buenos Aires (Argentina). É ilustradora e designer; escreve e desenha suas próprias histórias (e a dos outros também); compõe canções e conta cheia de orgulho, para quem quiser ouvir, que tem a honra de ser mãe das pequenas: Francisca e Serena.
Mais informações em: https://t.ly/RPxS
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Obra referência: CANÉ, Raquel. Sopa. São Paulo: VR Editora, 2015.
Por meio de belíssimas ilustrações e de um texto delicado e poético esse livro nos apresenta a pureza das lembranças da infância e da relação que se tem com uma avó. Sopa nos faz viajar pela memória e relembrar cheiros e sensações que nos enchem de felicidade. O livro traz ainda uma receita simples de sopa de abóbora.
