Inspirações e experiências

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Ajudando a construir uma cultura de paz para um brincar saudável – por Maeve Vida

15 de outubro de 2020

Por: Maeve Vida 

Como anda o corpo e a mente das crianças? Quais as qualidades que nós, adultos, podemos incentivar em nossas vivências cotidianas com as crianças para um brincar alegre e, ao mesmo tempo, permeado pelo respeito amoroso à diversidade? Como trazer às crianças a percepção de regras essenciais para um brincar saudável e permeado pela Cultura de Paz?

Essas são algumas das questões que as famílias e os educadores devem fazer ao promover momentos e espaços que garantam o direito primordial de toda criança: o brincar.

Devemos recordar que a criança vive hoje, na maioria dos casos, em um ambiente desafiador para a infância: excesso de tecnologia e pouca empatia. Cercada por celulares – que estão nas mãos de seus pais ou em suas próprias mãos – recebendo conteúdos estereotipados, a criança se vê, em muitos casos, alimentada de conteúdos vazios no cultivo dos valores humanos. Conteúdos esses que reforçam a cultura do medo, da violência e da ansiedade e que se refletem nitidamente em seu brincar.

Dessa forma, para que o brincar seja livre, alegre e construtivo, os cuidadores precisam promover, constantemente, vivências que tragam às crianças a oportunidade de desenvolvimento de suas habilidades socioemocionais, com momentos de reflexão sobre suas atitudes para com seus amigos e com os adultos, sobre o respeito para com os brinquedos e materiais de suas atividades, incluindo também o cuidado amoroso com os animais e plantas que fazem parte de sua vida.

Grandes educadores como Maria Montessori ressaltavam para os seus alunos: “aqui vocês podem fazer tudo, menos prejudicar a si mesmos, as pessoas com quem convivem e o ambiente da escola”. Era uma maneira de lembrá-los de estar no centro de si mesmos, em uma conexão com seu eu superior, onde mora a verdadeira liberdade e a criatividade no brincar.

Inúmeras são as ferramentas que os adultos podem utilizar para que a criança se volte para esse centro e, nutrida pela autoestima, autocontrole, paz interior e força de vontade, se coloque no mundo de forma mais consciente. É fundamental para a criança sentir que ela também é coautora do seu próprio destino, a partir de suas atitudes e palavras. É a partir desse centro que a criança adquire uma forma mais plena de expressão no seu brincar e no seu agir.

Ajudar a criança a mergulhar dentro de si mesma, no silêncio do seu coração, indo além do mar de informação e estímulos eletrônicos em que vivemos, é uma das formas mais profundas de fortalecê-la para ser um agente construtor de uma sociedade mais justa, amorosa e pacífica.


A sabedoria milenar da Yoga

Entre as muitas práticas de construção para uma cultura de paz no brincar encontra-se a sabedoria milenar da ciência da Yoga, que vem sendo cada vez mais utilizada na área da educação como um recurso de apropriação, por parte da criança, de sua própria fonte de paz interior.

No Brasil, há 10 anos, temos uma experiência muito profunda dessa aplicação da ciência da Yoga na Educação, na Escola Arte de Ser, em São Paulo. A escola embasa seu trabalho na metodologia How-To-Live, uma sistematização da ciência da Yoga para a área da Educação. Esse currículo foi idealizado pelo educador e iogue Paramahansa Yogananda, ao fundar a primeira escola, na Índia, em 1917, a seguir esses princípios.

No Ocidente, a Escola Arte de Ser é a primeira a se utilizar dessa metodologia, que enxerga a criança a partir de quatro pilares: ciência do corpo, engenharia mental, artes sociais e ciência espiritual aplicada. Práticas de hatha-yoga, meditação, oficinas de alimentação saudável, vivências na horta e o incentivo a uma convivência harmoniosa fazem parte do planejamento pedagógico da escola para o desenvolvimento do autoconhecimento das crianças e um despertar de uma consciência social mais ampla.

Outras escolas em todo o Brasil estão se apropriando das vivências em hatha-yoga e meditação, com excelente resultado tanto no trabalho cognitivo, quanto na capacidade de desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

Se conseguirmos apenas ensinar à criança a respirar corretamente – por meio de uma respiração nasal e calma – para que possa usar esse importante recurso para controlar suas emoções, teremos feito mais da metade do trabalho de educação para a paz.

E para poder aprender a respirar, é necessário cultivar a quietude e a beleza do momento presente em sua plenitude, é necessário ser alfabetizado sobre a importância do silêncio, o que poucas escolas ensinam. “Silêncio vale ouro. Silêncio é muito bom. É no silêncio que eu escuto o coração”, diz a canção…

Isso pode ser mostrado à criança, por exemplo, com exercícios de respiração permeados pela ludicidade e alegria inocente. Esse olhar atento do educador e das famílias para a necessidade de momentos de interiorização, que contribuam para o despertar das virtudes, tem sido a base para um brincar livre de preconceitos, feliz e amoroso, permeado pelo respeito à diversidade.

Maeve Vida é autora de diversos livros infantis, coordenadora do Programa Omnisciência de Educação para Paz, uma das fundadoras da Escola Arte de Ser, professora de meditação para crianças na Self-Realization Fellowship e membro do Conselho Consultivo da Aliança pela Infância.

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